A caridade não define existência do Terreiro

Por: Mãe Tathy de Oyá

✅03/11/2025 | 06:34

Seu papel primordial está no enfrentamento às forças contrárias que insistem em dizimar culturas. Deve ser ativo no confronto dos padrões e conceitos que deturpam a filosofia e a sobrevivência de diversos povos.

Diante disso, reafirmo a problemática em dizer de que “A UMBANDA É CARIDADE”.

Normalmente pessoas proferem essas palavras de peito estufado, como que se tivesse decorado. Escrevem em seus status, expõem nas redes sociais. Dialogam nas rodas de conversas com amigos e familiares. Vira até assunto principal no almoço de domingo.

Este comportamento está repleto de muitos vazios e revelam o oco da compreensão de sua própria identidade espiritual.

No dicionário, o principal sinônimo de caridade é:

*(da acp. 1) donativo ou ajuda que se dá aos pobres; esmola, benefício.

No esforço de justificar sua falta de magnanimidade, a afirmação até que pode parecer contundente.

Na tentativa de garantir minimamente uma imagem altruísta enche a boca e sai cuspindo aos quatro cantos que ser umbandista é dar esmola para as pessoas.

Limitam a imensidão da Umbanda e sua infinita capacidade de transformações, curas e geração de axé a gestos e falas vazias.

Subalternizam o Sagrado e o colocam no fundo do quintal literalmente. Gostam até de complementar citando a “simplicidade” do chão de barro e das paredes sem reboco.

São tantas camadas para essa reflexão que proponho aqui…

É sobre soberba disfarçada. Sobre tentar justificar seu próprio fracasso. Sobre avareza disfarçada de valores de caráter. Sobre comportamento egóico - onde a riqueza, a felicidade e o poder te pertencem e não devem ser compartilhados - afinal, na sua opinião a umbanda é caridade!

Normalmente reafirmam essa ideia de dentro do seu carro, na varanda de seu apartamento, fazendo compras no supermercado escolhendo a melhor marca do sabão em pó ou mesmo no açougue optando pela carne moída de primeira.

A umbanda é caridade dizem também os que não se disponibilizam nos projetos sociais do terreiro. Os mesmos que consideram cansativo limpar seu chão sagrado. Os que consideram-se injustiçados por terem de fazer uma manutenção.

São normalmente os mesmos que mal esperam a gira encerrar e já estão dentro de seus carros prontos para irem embora ansiosos para chegarem em suas casas e tomarem banho quente em seu chuveiro e deitarem em seus colchões macios.

Macumbeiro - revisite seus pensamentos. Descolonize suas ideias. Seja honesto e assuma sua necessidade de ajuste de comportamento. Esteja disposto para as mudanças. Desta força, qual é o seu lado?

Sugiro que comece questionando à quem favorece o pensamento de que as religiões de matriz africana e afro indígena merece só o que sobra. Que deve ser pequena. Que não deve sair da garagem ou do fundo do quintal.

Enquanto muitos filhes de terreiro se agarram nessa verdade, as demais doutrinas se expandem. Continuam ocupando lugares inimagináveis. Investem milhões em tecnologia e arquitetura. Enquanto macumbeiro acreditar que miséria, escassez e desmantelo são sinônimo de simplicidade ou axé verdadeiro estaremos realmente às margens e será inevitável o sofrimento de nosso povo.

Poucas pessoas tem o privilégio de serem medianas e darem muito certo na vida. Normalmente estes são herdeiros que deitam em sua mediocridade e passam a vida acreditando agregar valor dentro de sua insignificância.

Pessoas de Terreiro devem ter a consciência de que carregam a marca da resistência.

Então honremos a história para que a continuidade seja certa.

Mãe Tathy de Oyá

Mãe de santo da CUSLE – Comunidade da União do Sagrado Laços Espirituais e da CRIAOFÈOYÀ – Comunidade da Compreensão e da Restauração Ilè Àse Omi Àtúnbi ni Aféfé Òyá, território atuante nas filosofias e práticas religiosas da Umbanda, do Candomblé e da Jurema Sagrada, expande sua atuação por meio do Coletivo Egbé Ayé, acolhendo a comunidade externa com diversos programas sociais voltados à redução das desigualdades e à transformação da vida de mulheres, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade... [+ informações de Mãe Tathy de Oyá]

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