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Resistir é cultuar: os desafios de manter uma casa de Candomblé nos dias de hoje

  • Foto do escritor: WR Express
    WR Express
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Por: Ìyáloriṣá Élida Ti Ọya


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09/09/2025 | 16:34


Manter uma casa de Candomblé sempre foi um ato de coragem. Mas, nos dias de hoje, esse ato se tornou ainda mais desafiador. Falar sobre isso não é lamentar é resistir com consciência, é abrir caminhos com a palavra, é dar nome às feridas para que elas possam ser curadas com o axé do Òrìṣà.


A primeira adversidade, talvez a mais visível, é a financeira. O Candomblé não tem patrocínio, não tem isenção, não tem fomento do Estado. As contas chegam como em qualquer lar: água, luz, comida, velas, folhas, utensílios, roupas sagradas, manutenção. E, ainda assim, a maioria das casas sobrevive do que a comunidade pode oferecer, muitas vezes, com muito pouco. E o terreiro segue, acolhendo, alimentando, ajudando, mesmo quando falta.


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Mas há uma dor mais silenciosa: a adversidade espiritual e comunitária. Vivemos uma época em que muitos desejam o Axé, mas poucos querem o compromisso com o Òrìṣà. As pessoas buscam resposta, mas não estão dispostas a ouvir. Querem milagre, mas não querem o tempo da preparação. Querem o sagrado, mas não querem a responsabilidade que ele exige.


A fé se tornou rápida. O culto, por vezes, virou evento. As saídas de santo, que outrora eram o coração da comunidade, estão vazios. As obrigações são ignoradas. Os cantos se calam por falta de vozes. E o sacerdote, a sacerdotisa, muitas vezes, se vêem sozinhos, lutando para sustentar uma casa que é de todos, mas que poucos ajudam a manter.


O Candomblé é coletivo. É força que se firma com corpo presente, com mão que ajuda, com ouvido que escuta, com coração que vibra. Sem isso, a casa adoece. O Òrìṣà se recolhe. A ancestralidade sente.


E há também a intolerância, o racismo religioso, a perseguição velada (ou nem tanto), os olhares atravessados, a desinformação que ainda hoje confunde Exu com o mal, que criminaliza o que é nosso, que tenta apagar o que é sagrado. Isso também é uma adversidade — e das mais cruéis.


Manter um terreiro é, portanto, um ato de fé, política e resistência. É abrir as portas mesmo quando tudo diz para fechar. É seguir tocando o tambor mesmo quando a cidade quer silêncio. É continuar acendendo a vela quando tudo ao redor se apaga.


Este é um chamado à reflexão:

Se você ama o Òrìṣà, cuide da casa dele.

Se você busca o Axé, fortaleça quem o sustenta.

Se você se beneficia do Candomblé, ajude a carregá-lo nos ombros.


Porque o Candomblé não é espetáculo é vida.

E se queremos que ele viva, temos que viver por ele.




Ìyáloriṣá Élida Ti Ọya - AxéNews

Ìyáloriṣá Élida Ti Ọya

Sacerdotisa do Àṣẹ Alákétu Aìyè Afẹ́fẹ́, onde promove os valores, cultos e saberes ancestrais das tradições afro-brasileiras. Com uma trajetória dedicada à cultura e à religiosidade de matriz africana, ela atua como Coordenadora de Comunicação da confraria Oloyá’s e ocupa o cargo de Coordenadora Geral do evento Awo, onde contribui para a valorização e visibilidade das práticas religiosas no espaço público. Além disso, Ìyáloriṣá Élida é assessora do projeto Melodias de Terreiro, uma iniciativa voltada para a preservação do povo de terreiro. Escritora e acadêmica da APALARJ (Academia  Pan-americana de Letras e Arte do Rio de Janeiro). [+ informações de Ìyáloriṣá Élida Ti Ọya]



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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews.


 
 
 

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