Ọ̀ṣun no Culto Tradicional Yorùbá: A Força Feminina Divina
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Por: Iya Osunsewa

✅ 04/05/2025 | 09:43
Ọ̀ṣun é uma das Òrìṣà mais veneradas no panteão yorùbá. No culto tradicional, sua importância vai muito além da imagem de deusa da beleza ou do amor. Ọ̀ṣun é poder, é cura, é justiça, é fertilidade e é sabedoria ancestral. Ela é uma Òrìṣà com presença ativa no sistema de Ifá, sendo mencionada em vários versos sagrados dos Odù, onde mostra seu papel central na vida espiritual e social do povo yorùbá.
Ọ̀ṣun, o Rei com Forma de Mulher
Em diversos Odù de Ifá, Ọ̀ṣun é identificada como Oba — uma palavra que significa "rei", tradicionalmente associada ao masculino. Isso demonstra que Ọ̀ṣun não é limitada por categorias de gênero: sua autoridade transcende tais definições. Ela é a manifestação do poder feminino em sua forma mais completa, com força suficiente para liderar, decidir e transformar.
A Guardiã da Verdade e da Justiça
Ọ̀ṣun é conhecida por sua capacidade de expor os inimigos ocultos e revelar os corações dos falsos. Em versos do Ifá, é descrita como aquela que destrói as casas dos conspiradores e dos mentirosos, mantendo a ordem através da sabedoria e da clareza. Sua justiça é doce, mas implacável.
O Poder da Cura com a Água Sagrada
No culto tradicional, Ọ̀ṣun não é somente bela — ela é profunda conhecedora dos segredos da cura. Sua água sagrada é considerada mais eficaz do que qualquer folha medicinal.
Os sacerdotes e sacerdotisas do culto a Ọ̀ṣun buscam sua ajuda quando enfrentam doenças espirituais, infertilidade, ou desequilíbrios internos.
Os versos dizem:
"Ọ̀ṣun a r’omi tutu sọ̀ọ̀gùn àgàn" – Ọ̀ṣun usa água fresca como remédio para a esterilidade.
"Ọ̀ṣun a r’omi tutu w’árùn" – Ọ̀ṣun usa água fresca para curar as doenças.
Ọ̀ṣun e a Fertilidade
Ọ̀ṣun é uma Òrìṣà profundamente ligada à maternidade. É ela quem abençoa o ventre das mulheres, e seu poder é tal que pode dar filhos até às mulheres mais idosas, como diz o provérbio yorùbá:
"Ọmọ ń bẹ nínú àgbà gbogbo" – Até nas mais velhas, pode haver filhos, se Ọ̀ṣun assim quiser.
Rituais e Ofertas na Tradição Yorùbá
No culto tradicional yorùbá, Ọ̀ṣun é cultuada principalmente em locais naturais: rios limpos, especialmente o Rio Ọ̀ṣun em Òṣogbo, onde ocorre seu maior festival.
Quando não se possui um assentamento ritual dedicado a ela, pode-se oferecer alimentos às margens do rio, respeitando os princípios de sacralidade e de cuidado com a natureza.
Os alimentos mais comuns oferecidos a Ọ̀ṣun incluem:
• Àsàrọ̀ (purê de inhame com óleo de dendê),
• Ọbẹ̀ Atá (molhos apimentados),
• e bebidas como Sekete, uma bebida fermentada tradicional.
É importante lembrar que os peixes dos rios são considerados filhos de Ọ̀ṣun. Por isso, é culturalmente inadequado oferecer objetos artificiais como espelhos, pentes, tecidos ou perfumes diretamente na água, pois isso desrespeita o seu domínio natural e espiritual.
Ọ̀ṣun e a Conexão com a Natureza Divina
No culto tradicional yorùbá, os Òrìṣà são manifestações da própria Natureza viva. Cultuar Ọ̀ṣun é também proteger os rios, manter a água limpa e respeitar a vida. Quando seguimos esse princípio, nossas oferendas são aceitas e nossas orações ouvidas.
Ọ̀ṣun nos ensina que o divino se manifesta com mais força quando estamos em harmonia com a Terra. Sua energia, feminina e poderosa, guia, cura e transforma. É a mãe que dá a vida, a rainha que reina com sabedoria e a força que revela a verdade escondida.

Ìyánifá Ifáwemimó Òsunsewa Òrìsàtómisìn Ifálósèyí Lucia Santoro
Iyalorixa e fundadora do Templo AJÉ IFÁ ÒÒSÀ - ITALIA.
Iniciada no culto de Ifá no ano de 2013, na cidade de Oyo, Nigéria, na família IFÁLÓSÈYÍ. Iniciada Òsun, noa ano de 2016, com CHIEF ÀÌKÚLÓLA, na tradição de Osogbo, Nigéria. Iniciada em OBÀTÁLÁ, no ano de 2021, na família IFÁLÓSÈYÍ, na cidade de Oyo, Nigéria. [+ informações de Ìyánifá Ifáwemimó Òsunsewa Òrìsàtómisìn Ifálósèyí Lucia Santoro]
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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews. |
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