Saúde Mental e Povos de Terreiro – uma conversa necessária
- WR Express
- 1 de jul.
- 2 min de leitura
Por: Mãe Manu da Oxum

✅ 01/07/2025 | 18:45
Falar de saúde mental é urgente. Principalmente pra nós, que somos de terreiro, que carregamos tanto nas costas e no coração. Eu falo isso como mulher, como mãe, como sacerdotisa, como alguém que já cuidou de muita gente – e que também já precisou ser cuidada.
Ser de axé não significa estar forte o tempo todo. Mesmo com fé, mesmo com proteção, a gente também sente. E às vezes o peso da vida, das lutas, do preconceito, vai se acumulando… e o ori começa a gritar, mesmo em silêncio.
Muita gente acha que só porque temos guia, vela, erva e rezo, a gente não sofre. Mas a verdade é que o racismo, a intolerância religiosa, a falta de respeito com a nossa fé e com os nossos corpos... tudo isso machuca. E machuca fundo.
Mas é também no terreiro que eu vejo muita cura acontecer. Quando alguém entra quebrado e vai se recompondo devagar, no banho de erva, no toque do tambor, no conselho do Preto-Velho, no abraço da Pombagira. A espiritualidade acolhe, sim. Ela ouve o que ninguém ouve, segura a mão de quem já estava caindo.
Exu cuida da nossa mente. Oxum trata as águas que choram dentro da gente. Omolu dá conta daquilo que o mundo não enxerga. E eu acredito de verdade que a fé pode ser remédio. Mas também acredito que precisamos falar sobre isso com mais liberdade, com menos medo.
Nós temos direito de pedir ajuda. Temos direito de não estar bem. Não é vergonha nenhuma cuidar da saúde mental. Vergonha é o mundo fingir que tudo isso não importa.
A gente precisa criar espaço pra escuta dentro dos terreiros. Precisamos acolher nossos filhos e filhas de santo com mais humanidade. Entender que por trás do branco, da guia e do axé, tem um ser humano pedindo colo. Assim como eu também já pedi.
Que a gente normalize o cuidado. Que a gente tenha coragem de se ouvir, se respeitar, se proteger. E que nosso axé também seja abrigo para as dores da alma.
Se priorize e nunca perca a conexão com o Sagrado.

Mãe Manu
Mãe Manu da Oxum é Bisneta de Pai Nelson que morava no Bairro Boa Esperança e trabalhava com Preto Velho Pai Tomé. Neta espiritual de Mãe Ivonete do Ogum (desencarnada), nordestina, trabalhava nos fundos de sua casa e era costureira. Seus Guias chefes eram o Velho Rei do Congo, Caboclo 7 Flexas, Cigana Carmencita e Cigano Wladimir. [+ informações de Mãe Manu]
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