O desafio e a alegria de lançar O Livro “As Guardiãs”
- WR Express
- há 2 dias
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Atualizado: há 10 horas
Por: Lelo Oliver

✅ 02/10/2025 | 07:29
Fazer um livro nunca é tarefa simples. Existem etapas que, antes mesmo de a obra chegar ao lançamento e às prateleiras, precisam ser seguidas com atenção. Cada livro é único, e eu costumo sempre dizer isso: cada livro é único. Não se trata apenas de colocar palavras numa página e encerrar o trabalho. Cada obra exige cuidado, carinho e uma visão diferenciada.
Esse cuidado começa pela revisão. Por mais que o autor ou a coordenadora escrevam bem, é a revisão que remove as arestas: uma vírgula fora do lugar, uma discordância verbal, pequenos deslizes que precisam ser corrigidos. Depois da revisão, o texto volta para as mãos do autor ou da coordenadora, que fazem a aprovação do conteúdo. Só então retorna para a editora, que inicia a criação da capa e do projeto gráfico.
Essa etapa, muitas vezes, rouba noites de sono. A escolha da fonte, da arte e do projeto gráfico precisa ser pensada minuciosamente. O que parece bonito no computador nem sempre se comporta da mesma forma no papel, e o papel, afinal, é o destino do livro impresso. É nele que a obra ganha corpo, cor e textura. Por isso, cada detalhe é avaliado com extremo cuidado. As primeiras vinte e cinco páginas e a capa são submetidas à avaliação do autor ou da coordenadora para aprovação, antes que se inicie a diagramação.
Concluída a diagramação, abre-se uma nova etapa: a da devolutiva. Em antologias, por exemplo, cada parte pode ser entregue a cada coautor, ou então o arquivo em PDF é revisado coletivamente, para que todas as vozes deem seu “ok” final. Caso se encontre algum erro ou algo que tenha passado despercebido durante a revisão ou a própria diagramação, esse é o momento das emendas, ou seja, das correções pontuais que precisam ser feitas. Somente depois que todos os autores e todos os envolvidos confirmam e aprovam a versão final, o livro é fechado e então enviado para a gráfica.
Esse é o processo editorial, e ele precisa ser seguido à risca para que não haja surpresas desagradáveis depois da impressão, no lançamento ou na distribuição. Eu costumo dizer que um livro tem uma gestação. Em média, de seis meses a um ano. Há casos que demoram cinco ou até seis anos para ficar prontos. No caso de O Livro 'As Guardiãs', foram dois anos de um longo período embrionário até que finalmente ganhasse vida.
Os desafios foram muitos. Essa obra, baseada em mistérios, carrega um peso simbólico e histórico imenso e, justamente por isso, exigiu de mim um cuidado ainda mais rigoroso, para que o profissionalismo e o nome da Onirá Editora jamais fossem questionados. Cada página revisada, cada escolha de palavra, cada vírgula e cada aspecto gráfico foram examinados com atenção redobrada, para que o resultado fosse impecável.
A alegria de ver o livro finalizado e chegando à porta da minha casa pelos Correios foi indescritível. Ao abrir a caixa e segurar o exemplar, percebi que ele havia ficado ainda mais bonito do que eu esperava. É difícil traduzir em palavras o que senti ao ver o brilho nos olhos da coordenadora, Vodúngán Kelly De Oyá, ao receber o livro em mãos, e ao ouvir os elogios dos coautores. A energia que o projeto transmitiu nos deu um orgulho coletivo, não só a mim, mas a toda a equipe da Onirá Editora.
O Livro 'As Guardiãs' é, em si, uma história dentro da história. Que ele possa se perpetuar por muito tempo na trajetória da Onirá Editora. Não foi por acaso que o lançamento aconteceu no Museu da República, um lugar que resgata e preserva a memória do candomblé e de outras religiões de matriz africana no Rio de Janeiro, por meio da Coleção Nosso Sagrado. Essa coleção reúne artefatos sagrados que foram apreendidos entre o final do século XIX e meados do século XX, e que ficaram guardados por décadas no Museu da Polícia Civil. A transferência e a gestão compartilhada dessa coleção, que inclui instrumentos musicais, imagens de santos e roupas ritualísticas, representam um gesto de reparação histórica e de combate ao racismo religioso, permitindo que esses objetos sagrados sejam devidamente reverenciados e estudados pelas comunidades afro-brasileiras.
O lançamento de O Livro 'As Guardiãs' nesse espaço histórico é, portanto, um marco para todos nós. É resistência, é vontade de contar e preservar histórias, é um gesto de memória e fé. É também a celebração da força da ancestralidade feminina, que atravessa o medo, rompe o silêncio e transforma a experiência em palavra, em registro literário.
Hoje, ao olhar para trás, percebo que os desafios foram grandes, mas a alegria é infinitamente maior. Esse livro é mais do que um projeto editorial. Ele é um encontro com a memória, com a espiritualidade e com a beleza de resistir através da escrita.

Lelo Oliver
Produtor Editorial, Design Gráfico, Capista e Diagramador. CEO da Onirá Editora e do selo Novos Griôts. Com Vários Livros e Revistas produzidos e Lançados dentro e fora do Brasil. Revista Escrita Sete (Portugal, Frankfurt e em breve Estados Unidos). Foi indicado com dois livros no Aclamado Prêmio Jabuti. Foi indicado com um livro na academia Brasileira de Letras. [+ informações de Lelo Oliver]
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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews. |
A descrição que o CEO fez sobre o próprio trabalho, a própria empresa, foi muito linda! É de um carinho enorme, esse prelúdio foi incrível e deu ainda mais beleza para o livro que foi lançado. Já quero comprar o meu, parabéns!!