O Candomblé nasceu como resistência

Por: Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún

✅ 08/09/2025 | 08:57

Resistência ao açoite, à catequese forçada, ao projeto de apagamento cultural.

O toque de atabaque, a folha sagrada, cada reza é um grito de sobrevivência que atravessou séculos de perseguição. E, ainda hoje, essa resistência continua necessária.

As igrejas neopentecostais ergueram um discurso que não apenas afirma sua fé, mas nega a nossa. Transformaram Orixá em demônio, terreiro em ameaça, ebó em feitiçaria. Não é teologia, é a estratégia demonizar o Candomblé e legitimar sua própria expansão, é criar um inimigo invisível que justifique guerras espirituais e arrecadações financeiras. É economia do medo.

No entanto, quando o neopentecostal aponta o dedo e chama Exu de diabo, não fala apenas contra um símbolo religioso, fala contra a memória de um povo, contra a ancestralidade que deu forma ao Brasil.

É um ato de violência cultural, um sequestro simbólico que tenta reescrever nossa história como se não houvesse dignidade naquilo que nos sustenta.

Mas o Candomblé não é fragil diante da cruz erguida em espetáculo, ele permanece em cada agbá, e em cada noviço, nos corpos que dançam apesar da perseguição.

O que está em jogo não é apenas religião, mas memória e futuro.

Enquanto nos chamarem de demônio, seguiremos nossos ritos e cultos.

Enquanto tentarem nos silenciar, seguiremos balançando nossos adjás.

Porque o Candomblé não precisa de demônio para existir, nunca precisou construir um vilão para ser herói.

Ele é, em si mesmo, a presença viva da ancestralidade.

Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún

Moyses de Ògún é Ẹ̀gbọ́n e conselheiro no Ilê Olá Omí Àṣẹ Opo Àràkà, delegado de cultura em São Bernardo do Campo eleito pelo povo de terreiro na elaboração do plano municipal de cultura.​

Defensor da laicidade do estado, liberdade religiosa e dos povos tradicionais de terreiro, executivo do mercado financeiro e escritor. [+ informações de Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún]

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