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Malandragem além das fronteiras: perguntas e respostas sobre o Sr. Zé Pretinho e sua festa em Londres

  • Foto do escritor: WR Express
    WR Express
  • há 6 dias
  • 4 min de leitura

Por: Pai Marcos

Foto: TUEG UK
Foto: TUEG UK

✅ 25/11/2025 | 08:10


Novembro chega e Londres muda de tom. As folhas tomam as calçadas, o frio se instala devagar e a cidade passa a respirar em outro ritmo. Enquanto isso, do outro lado do oceano, o Brasil desperta para o calor que antecipa o verão, e para a luz que se espalha pelos dias e noites como promessa de uma nova e festiva estação. Entre esses dois mundos, com climas e culturas tão distintos, o TUEG se torna um ponto de encontro. Aqui, novembro carrega um sentido muito próprio: para nós, é o mês em que celebramos o Sr. Zé Pretinho.


Quem conhece o trabalho da Malandragem sabe que não se trata de uma festa qualquer. É ritual vivo, fundamento, ancestralidade em movimento. É tradição, espiritualidade pulsante, união e firmeza. É feijoada com axé, mesa cheia, música que envolve, gargalhada solta, encontro de histórias e aquele clima caloroso que só a Malandragem sabe criar, mesmo em pleno frio londrino.


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Por isso, não poderia pensar em assunto melhor para tratar neste terceiro artigo especial para o Axé News. Hoje, trago perguntas e respostas que revelam não apenas quem é o Sr. Zé Pretinho, mas também o que significa cultuar a Malandragem fora do Brasil, transformando nossos gestos de fé em resistência silenciosa e luminosa, em vínculo com nossa cultura, tradições e ancestralidade.


Quem é o Sr. Zé Pretinho?

Zé Pretinho pertence à Linha dos Malandros, espíritos que carregam a essência do boêmio honesto, da sagacidade que protege o simples e da inteligência social que vira ensinamento profundo. Malandro não é marginal. Malandro é quem resolve na conversa, quem entende o humano, quem lê intenção, quem defende o justo e o inocente. Eles ensinam a viver com elegância, consciência, jogo de cintura e dignidade.


O Sr. Zé Pretinho é leve, mas incisivo. Galanteador, sorridente, apaixonado pela vida e profundo ao mesmo tempo. Ele chega falando fácil; quando vai embora, deixa reflexão no ar. Em uma casa como o TUEG, tão distante do Brasil, sua presença se torna ainda mais valiosa, porque ele relembra que a malícia boa, a leveza sábia e o senso de justiça também atravessam fronteiras.


Por que uma festa para Zé Pretinho?

Se temos festa para Caboclos, Pretos Velhos, Erês e Orixás, por que não celebrar também a Malandragem, que tanto nos auxilia?


A festa existe porque o Malandro gosta de gente. Gosta de mesa cheia, de encontro, de convivência e de conversa que transforma. A festa é a forma ritual de reconhecimento, honra e gratidão ao trabalho dele dentro da casa. Não é brincadeira; é celebração como forma de culto, respeito e continuidade.


Por que feijoada?

Porque feijoada é identidade nacional de um povo que carrega história, resistência e afeto no prato. É comida de partilha, de botequim, de roda de história e samba. É alimento que acolhe. Aqui em Londres, no frio de novembro, ela aquece corpo, corrente, convidados e o axé.


E o Sr. Zé Pretinho vibra ali no meio de todos, agradece os cozinheiros e se diverte sambando. (Eu, Pai Marcos, não sei sambar… mas ele… ah, ele tem o pé na gafieira!).


Fazer uma feijoada fora do Brasil é, por si só, um reencontro com a memória afetiva de um povo. E em um terreiro como o TUEG, conduzido por alguém que cresceu na Umbanda paulistana e trouxe sua fé para a Inglaterra com humildade e coragem, esse prato se torna também um gesto de continuidade da tradição. Agora, aposto que você está curioso(a) para saber...


Afinal, como é esse dia no TUEG?

Ah, esse dia é muito, muito especial no TUEG! Tem espiritualidade, música, humor consciente e axé vivo no cotidiano. A gira abre normalmente, os médiuns podem vestir suas camisas de malandros e, juntos, atendemos e aplicamos passe em todos. Depois, quem deseja, come bem, celebra e vive essa energia.


As feijoadas são vendidas antecipadamente, sob encomenda, em versões tradicional e vegetariana, para garantir que todos possam compartilhar esse momento tão importante. Zé Pretinho permanece em terra, dispensando os médiuns um a um para aproveitar a festa, mas segue presente, abençoando quem chega com sorriso largo e sabedoria fina.


Quando estamos ali, juntos, reunidos em solo estrangeiro, esse dia ganha uma força especial. É a prova de que, apesar das dificuldades que compartilhei nos meus artigos anteriores, a Umbanda segue viva e pulsante. Para muitos que chegam ao TUEG, principalmente imigrantes, essa festa é um pedaço de casa reencontrado.


Por essa razão, a festa em homenagem e celebração ao Sr. Zé Pretinho é tão imperdível. Quem participa aprende uma verdade rara: ser firme sem ser duro, ser leve sem ser frágil, ser justo sem ser agressivo. Quem vive esse dia sai diferente, mais atento, mais consciente, mais vivo.


Para onde vai o valor arrecadado com a venda das feijoadas?

Assim como os valores obtidos com a venda de alimentos e artefatos religiosos nas outras giras do calendário, a comercialização das feijoadas também é revertida diretamente na manutenção do TUEG. Todo recurso é destinado aos materiais e estrutura indispensáveis à continuidade dos trabalhos.


Ter um terreiro fora do Brasil exige esforço, compromisso e união. Cada contribuição mantém vivo o trabalho que acolhe tantas pessoas em terras britânicas.


Agora que compartilhei tudo isso contigo, fica aqui meu convite: se estiverem por Londres em novembro, venham viver esse dia conosco no TUEG!


Muito obrigado e até breve!



Adriano Cabral - AxéNews

Pai Marcos

Pai Marcos, fundador e zelador do Terreiro de Umbanda Estrela Guiada UK - TUEG UK, é um homem com uma rica experiência no mundo espiritual. Desde cedo, teve a oportunidade de explorar diversas vertentes, como o Catolicismo, Kardecismo, Mesa Branca, Reiki, Umbanda e Umbandaime. Essa jornada lhe proporcionou um vasto conhecimento e uma visão abrangente sobre diferentes práticas e filosofias espirituais... [+ informações de Pai Marcos]  



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|| Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews.

 
 
 

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