Juventude de Àṣẹ: Desafios e Perspectivas para a Continuidade do Candomblé
- WR Express
- há 5 dias
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Por: Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún

✅ 05/06/2025 | 13:51
A presença da juventude nos terreiros de Candomblé é, sem dúvida, um dos sinais mais promissores da vitalidade e da continuidade da tradição afro brasileira. Em um cenário permeado por intensas transformações culturais e sociais, o envolvimento de jovens com o culto aos Òrìṣás representa não apenas resistência frente ao preconceito religioso, mas também a preservação de saberes e práticas nas comunidades de àṣẹ.
Desafios contemporâneos
Os jovens que se aproximam do Candomblé frequentemente enfrentam múltiplos desafios. A intolerância religiosa, ainda amplamente disseminada na sociedade brasileira, atinge de forma particular essa faixa etária, especialmente em espaços como escolas e ambientes profissionais, onde a adesão a religiões de matriz africana é frequentemente estigmatizada. Além disso, muitos jovens encontram resistência no próprio núcleo familiar, que, por desconhecimento ou influência de doutrinas hegemônicas, não reconhece a legitimidade da religião afro-brasileira.
Há, ainda, tensões que surgem no interior das próprias casas de àṣẹ, a juventude contemporânea valoriza o diálogo, o acesso ao conhecimento e o questionamento construtivo — atitudes que, por vezes, entram em choque com modelos tradicionais de transmissão de saber, muitas vezes marcados por estruturas rígidas de hierarquia. Neste ponto, é fundamental que as lideranças religiosas se abram à escuta, estabelecendo pontes entre tradição e contemporaneidade.
Relações intergeracionais e construção de lideranças
As diferenças entre gerações não devem ser vistas como obstáculos, mas como oportunidades de aprendizado mútuo. As lideranças mais antigas detêm o conhecimento ancestral e a autoridade espiritual; os jovens trazem o dinamismo, a criatividade e novas linguagens de atuação. Quando esse encontro se dá de forma respeitosa, a casa de àṣẹ se fortalece. A juventude não deve ser apenas acolhida, mas também preparada para exercer responsabilidades, com o devido acompanhamento e formação.
A presença ativa de jovens no Candomblé representa uma garantia de futuro para a religião. São eles que continuarão as tradições, que manterão os fundamentos e que, em simultâneo, abrirão novos caminhos de expressão e resistência. Investir na formação e no acolhimento desses jovens é uma tarefa inadiável para todos os que zelam pelo por religiões de matriz africana.
Se a tradição se sustenta nas raízes profundas deixadas pelos mais velhos, é nos ramos novos — simbolizados pela juventude — que florescerão as próximas gerações de filhos e filhas de santo.

Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún
Moyses de Ògún é Ẹ̀gbọ́n e conselheiro no Ilê Olá Omí Àṣẹ Opo Àràkà, delegado de cultura em São Bernardo do Campo eleito pelo povo de terreiro na elaboração do plano municipal de cultura.
Defensor da laicidade do estado, liberdade religiosa e dos povos tradicionais de terreiro, executivo do mercado financeiro e escritor. [+ informações de Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún]
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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews. |
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