Por: Gisele Rose
13/05/2024 | 16:19
Uma das metas primordiais e fundamentais para uma educação pautada na diversidade é tornar visível, de forma igualitária, personalidades, pensadoras e pensadores, pesquisadoras e pesquisadores de todos os gêneros, raça e etnias que formaram nosso país e que, e que lutam pela implantação de uma educação que respeite todas as subjetividades.
Com base nesta afirmativa, como mulher negra sobrevivente em meio ao racismo e misoginia vigentes, penso não na importância da mulher, mas sim, na necessidade de termos mulheres múltiplas e diversas áreas de conhecimento propondo e construindo saberes outros que reflitam sobre nossas existências, mas também que pensem a partir dos nossos olhares e percepções a possibilidade de vislumbrar uma sociedade mais justa e igualitária, pois:
Entre os grupos de mulheres assassinadas como bruxas na sociedade colonial americana as negras têm sido historicamente vistas como encarnação de uma perigosa natureza feminina que deve ser governada Mais que qualquer grupo de mulheres nesta sociedade as negras têm sido consideradas só corpo sem mente A utilização de corpos femininos negros na escravidão como incubadoras para a geração de outros escravos era a exemplificação pratica da ideia de que as mulheres desregradas deviam ser controladas Para justificara exploração masculina branca e o estupro das negras durante a escravidão a cultura branca teve de produzir uma iconografia de corpos de negras que insistia em representá-las como altamente dotadas de sexo a perfeita encarnação de um erotismo primitivo e desenfreado Essas representações incutiram na consciência de todos a ideia de que as negras eram só corpo sem mente (hooks, 1995, pág. 468)
Destaco que, de acordo com bell hooks existe um processo de desvalorização do trabalho intelectual que muitas vezes torna difícil para indivíduos que vêm de grupos marginalizados, aqui especificamente pensando nas mulheres negras, considerando imprescindível seus trabalhos intelectuais, pois ao longo de nossa história surgiram intelectuais de todas as classes e camadas da vida que atuaram e/ou ainda atuam na formação de uma outra sociedade.
Contudo a decisão de trilhar conscientemente um caminho intelectual foi sempre uma opção excepcional e difícil para muitas mulheres negras, pois:
As intelectuais negras trabalhando em faculdades e universidades enfrentam um mundo que os de fora poderiam imaginar que acolheria nossa presença mas que na maioria das vezes encara nossa intelectualidade como suspeita O pessoal pode se sentira vontade com a presença de acadêmicas negras e talvez até as deseje mas e menos receptivo a negras que se apresentam como intelectuais engajadas que precisam de apoio tempo e espaço institucionais para buscar essa dimensão de sua realidade A professora de direito negra Patricia Williams em sua nova coletânea de ensaios The Alchemy of Roce and Rights (A alquimia de raça e direitos) escreve com eloquência sobre a maneira como alunas e professora negras exercem o pensamento crítico um trabalho intelectual que ameaça o status quo e torna difícil para nos receber apoio e endosso necessários (hooks, 1995, pág. 467).
Dito isto, enfatizo que a presença das mulheres na produção intelectual tem aumentado, principalmente pelas possibilidades de trocas com outras mulheres que já iniciaram esta caminhada, mas penso que ainda temos uma longa estrada quando pensamos mulheres pertencentes as diversas etnias existentes em nosso país, pois quando as comunidades negras diversas enfocarem os problemas de gênero e o trabalho de (hooks, 1995) estudiosas for lido e/ou discutido mais amplamente nesses lugares as intelectuais negras não apenas terão maior reconhecimento e visibilidade haverá também maior estimulo para que as jovens estudantes escolham caminhos intelectuais.
REFERÊNCIAS
hooks, bell. Intelectuais Negras. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 464, jan. 1995. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/16465/15035>. Acesso em: 08 de maio de 2024.
Gisele Rose
Filósofa e escritora. Professora da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ). Mestra em Relações étnico raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)... [+ informações de Gisele Rose]
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