Entre alegria, risos e mistérios: Ibeijada, Cosme Damião e as Crianças na Umbanda
- WR Express

- 25 de set.
- 3 min de leitura
Por: Mãe Bianca Morelli

✅25/09/2025 | 09:07
Há um instante em que a fronteira entre o mundo real e o mundo imaginário se cruzam. Esse instante, quase sempre, chega pelo olhar de uma criança. É um olhar que mistura o visível e o invisível, que enxerga encantos onde o adulto só vê rotina.
É nesse espaço encantado que a Ibeijada se manifesta: espíritos infantis que não apenas incorporam nos terreiros, mas despertam dentro de nós algo que muitas vezes deixamos adormecido, nossa criança interior.
Chegam com vozes de criança, gestos que lembram os primeiros passos, levadas e inocentes, cheiro de terra molhada e de bolo recém-assado. É como se nos convidasse a resgatar nossa própria essência.
Aquela criança que ri sem medo, que se encanta com o simples, que chora sem vergonha e que, na mesma rapidez, encontra alívio num doce, numa cantiga, numa roda de brincadeiras. A Ibeijada é a ponte entre mundos: entre o adulto pesado de responsabilidades e a infância leve e livre.
Quando setembro chega as ruas se enchem de cores, doces e brincadeiras, mas além da tradição popular, esse dia guarda um mistério espiritual profundo. Nos terreiros, as entidades infantis descem trazendo pureza, leveza e ensinamentos silenciosos.
Simas, em seu livro Pedrinha Miudinhas descreveu assim:
“ .dia de Cosme e Damião. Dia brasileiro dos santos estrangeiros e orixás africanos. Dia de igreja aberta, missa campal, terreiro batendo, criança buscando doce, amigos bebendo saudades e aconchegos. Dia de comer caruru na rua. ”
Esse dia é encontro de mundos: sagrado e profano, rua e terreiro, alegria e devoção. É sincretismo, festa e espiritualidade em movimento. Nas tradições antigas, estendiam-se toalhas coloridas, preparavam-se doces caseiros e o famoso Caruru e ali sete crianças com menos de sete anos eram convidadas a se fartar com as guloseimas. Acreditava-se que a alegria delas atraía bênçãos para todo o ano, como se a risada infantil fosse um chamado para que a espiritualidade ficasse presente no lar e trouxesse felicidade à família.
Quando a Ibeijada chega no terreiro, traz uma espiritualidade diferente. Sua linguagem é o brincar, o cantar, o abraço, a lágrima sincera. É cura pela simplicidade. É fé que não precisa de grandes discursos, apenas de um coração aberto para dançar junto.
Luiz Antônio Simas, em suas crônicas, nos lembra:
“As ruas também podem brincar com os céus.”
Simas nos faz perceber que, mesmo nas esquinas e becos menos iluminados, há espaço para o riso, para a pipa no céu, para a amarelinha no chão… Pequenos atos que, de tão simples, parecem pontes entre o humano e o divino, entre a terra e o sagrado.
Se pudéssemos, todo dia, escutar a voz da criança interior: suas alegrias, suas dores, sua esperança. Se pudéssemos acolhê-la com carinho, permitir que chore, que ria, que se divirta, como seria então o viver? A Ibeijada nos chama para isso. Ela não exige perfeição. Ela apenas quer ue nos lembremos que somos e o que gostamos. Que você se abra para brincar com o invisível, que lembre que a vida também pode ter festa, canto, alegria e riso que cura.
São nesses risos em cada doce ofertado, em cada dança infantil, em cada abraço dado sem vergonha que a Umbanda se torna lar de uma espiritualidade que salva, que reconstrói. Que nos devolve o riso que esquecemos e nos permite, enfim, reencontrar o caminho de volta pra casa.
Salve Cosme e Damião!
Onibeijada!!!

Bianca Morelli
Bianca Morelli, CCT (Comandante Chefe de Terreiro) e Mãe Espiritual da Tenda Espirita Luz de Maria. Terapeuta e Oraculista por amor, sou uma eterna aprendiz e estudiosa. Como terapeuta sou uma apaixonada pelos oráculos e busco equilibrar o desenvolvimento espiritual ao terapêutico fazendo com que cada indivíduo compreenda seu papel nesta encarnação. [+ informações de Bianca Morelli]
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