Educação Antirracista e a afetividade no cotidiano escolar
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Por: Gisele Rose

✅ 22/08/2025 | 07:56
Acolhida como aceitação do Outro na sua humanidade e na sua
capacidade de mudança. E para que haja aceitação e acolhida se faz
necessário o diálogo (de corpos e culturas).
Azoilda Loretto da Trindade
Refletir sobre uma educação antirracista é antes de qualquer coisa entender que o racismo existe e permeia todas as instituições e isso se dá porque na nossa estrutura social o racismo é uma constante, e pode ser apresentado de várias formas.
A questão se inicia nas falas que são reproduzidas no cotidiano escolar de que os negros contribuíram para a formação do Brasil. Se analisarmos de forma mais ampla esta afirmativa, perceberemos que se o povo negro contribui, é porque já existia um Brasil completamente construído e não é assim que analisaremos, o povo negro participou efetivamente da formação do Brasil e também da formação do que chamamos de povo brasileiro.
Nesse sentindo, é fundamental entender que uma das principais formas de praticar uma educação antirracista é proporcionar sujeitos de raças e etnias diversas sejam representadas no cotidiano escolar nas mais variadas formas, valorizar a imagem e a importância da prática de uma educação que seja voltada para a diversidade, corrigindo assim práticas racistas que são apresentadas de forma estrutural em nosso cotidiano escolar.
Ao pisar no chão da escola é necessário compreender que estamos num local de múltiplos saberes, variadas formas de agir e pensar, estamos num espaço pulsante e vivo que proporciona a interação e o contato com muitos sujeitos.
A única forma de uma instituição combater o racismo é por meio da implementação de práticas antirracistas efetivas e para isso precisamos envolver esses jovens dentro de um cotidiano respaldado pelo acolhimento e representatividade, caminhando sempre na construção de uma identidade negra baseada em atos praticados. É fundamental para a luta antirracista que pessoas negras estejam e sejam representadas nos espaços escolares.
Ao propor uma educação antirracista com base na afetividade é mostrar que o ato de afetar e ser afetado pelo outro é uma constante que moverá ações e emoções no chão da escola. Entender que a afetividade está presente no cotidiano escolar é saber que nossas ações interferem na construção existencial do outro.
A palavra afetividade, por si só, já nos dá uma ideia de que deriva da palavra afeto, ou seja, se refere ao ato de afetar e ser afetado pelo outro através de sensações e ações que proporcionem uma interação maior entre todos os sujeitos pertencentes ao espaço escolar.
Ao pensar, inicialmente, sobre afetividade de imediato pensamos em sentimentos que ressaltem a afeição e ao amor que se tem por determinadas pessoas, objetos ou situações.
A afetividade que é construída através de processo existencial e que modifica a essência do ser negro, ou seja, que permite construir uma identidade negra pautada na afirmação e resistência, se torna de suma importância para todos aqueles que fazem parte do cotidiano escolar.
Demonstrar à comunidade escolar a importância quanto ao seu papel de promotores/as de um cotidiano escolar que compreenda a necessidade de discutir as relações étnico-raciais ancorando-se na crença de que o chão da escola nos possibilita compreender e observar a multiplicidade de vozes, cores, tessituras que se entrelaçam, se sobrepõem, isolam-se, contrastam-se, interagem.
Refletir que cada indivíduo é único dentro de uma perspectiva diversa é compreender que cada um é afetado de uma forma diferente. No que tange as instituições de ensino, o afeto se torna a principal fonte para compreensão dos acontecimentos do cotidiano, pois afetar é proporcionar sentido a questões, preocupações, ações e emoções que são invisibilizada, e perceber que existe uma necessidade de entender como estes sujeitos se comportam na convivência uns com os outros e dessa maneira como conseguem afetar e ser afetados uns aos outros.
O cotidiano escolar é complexo, sobretudo ao pensá-lo na perspectiva da diferença, pois se ressaltamos as diferenças trilhamos um caminho que vai nos levar rumo a uma educação que inclua e valorize sujeitos.

Gisele Rose
Filósofa e escritora. Professora da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ). Mestra em Relações étnico raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Especialista em Energia e Sociedade no Capitalismo Contemporâneo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)... [+ informações de Gisele Rose]
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