Contra o Racismo Religioso: mandado do deputado Josemar promove noite de homenagens e reflexões potentes na Alerj
- WR Express
- 30 de abr.
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Atualizado: 15 de mai.
O evento integrou o calendário do Abril Verde

✅ 30/04/2025 | 12:36
Na noite desta terça-feira, 30 de abril, lideranças religiosas e representantes de movimentos sociais foram homenageados na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) por suas atuações no enfrentamento ao racismo e à intolerância religiosa. A solenidade foi promovida pelo mandato do deputado estadual Prof. Josemar (PSOL), presidente da Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos da Casa.
O evento integrou o calendário do Abril Verde, mês dedicado à conscientização e ao combate à intolerância religiosa em todo o estado. A cerimônia teve início com a composição da mesa por autoridades e convidados: Mestra Silvana Santana de Almeida, do Ilê da Oxum Apará (Terreiro de Jair de Ogum e de Lélia Gonzalez); Dra. Luciana da Mota, coordenadora da Promoção da Equidade Racial (COOPERA), da Defensoria Pública do Rio de Janeiro; e Dr. Kinny Kayode, integrante da Comissão de Combate ao Racismo da OAB de São Gonçalo.
Ao abrir os trabalhos, o deputado Prof. Josemar deu boas-vindas aos presentes, agradecendo pelas trajetórias construídas nos territórios de base e destacou o simbolismo do evento.
“Nosso evento é parte do ‘Abril Verde’, um momento importante na luta contra a intolerância religiosa. Este termo (intolerância religiosa) é importante, mas tem uma limitação, porque não coloca a questão racial. O preconceito contra as religiões de matriz africana é muito mais intenso, e a gente visa dialogar nesse sentido. Usamos esse termo ‘racismo religioso’ por conta de toda a repressão e de toda a opressão que existe contra os povos de terreiro. Ao longo desses anos, vemos o racismo religioso como prática aqui no Brasil. O país rasga o direito ao Estado laico, rasga o direito à pluralidade, e nosso evento visa reconstruir isso”, afirmou o parlamentar em entrevista ao AxéNews.

A Mestra Silvana da Silva Santana de Almeida reforçou em sua fala a importância dos terreiros como espaços de resistência e memória da população negra:
“Para mim, é extremamente especial estar aqui hoje no estado do Rio de Janeiro. Eu, que sou natural de Salvador (BA), encontro aqui um reflexo da Bahia, o que tem um peso muito grande. Tenho cinco anos de residência fixa neste estado, e são cinco anos de busca dessas caras pretas, dessas caras africanas. Porque parece que, quando estamos em um estado cosmopolita, um dos maiores da nação brasileira, nossa representação fica mais fragilizada. Não que não tenhamos força para resistir em qualquer lugar, mas a força colonial que tentou apagar nossas memórias e histórias é ainda mais pesada quando se tem o capital político estruturado e estruturante”, afirmou.

Na sequência, a Dra. Luciana da Mota apresentou o trabalho desenvolvido pelo núcleo COOPERA na Defensoria Pública:
“Temos hoje, na estrutura da Defensoria Pública, um núcleo específico para o combate ao racismo. Nele, atendemos demandas individuais e coletivas ligadas às causas raciais. Por exemplo, quando uma pessoa é vítima de um ato de racismo, realizamos o atendimento, encaminhamos à delegacia, acompanhamos o inquérito policial e, posteriormente, se houver denúncia criminal, atuamos como assistentes de acusação e ajuizamos ação cível de indenização em favor da vítima”, destacou.

Fechando o ciclo de reflexões, Dr. Kinny Kayode fez uma fala contundente sobre as raízes históricas da opressão religiosa e suas conexões com a educação:
“Eu sou de São Gonçalo e, sempre que ando pelo centro do Rio, algo que me chama atenção é a arquitetura. Fico pensando: esses prédios com 200, 300 anos, em que condições foram construídos? Sempre que penso nisso, sinto dor. Penso em mim mesmo carregando blocos, argamassa. O prédio onde estudo, a Faculdade Nacional de Direito, foi o palácio do Conde dos Arcos, um dos maiores escravocratas do Brasil, construído, obviamente, por pessoas escravizadas. Por um lapso temporal, hoje estou lá como pesquisador, estudante de mestrado. Séculos atrás, estaria como um obreiro escravizado", refletiu.

Encerradas as falas, o coletivo Aziza de São Gonçalo realizou uma potente apresentação. Formado pelas atrizes Marina Isabel, Maryana Oliveira, Pâmella Bastos, Carolina Bonjour, e dirigido por Flávia Freitas, o coletivo apresentou um número que aborda a crueldade e a covardia que é o racismo religioso.
"Apresentamos a cena que fala sobre os diversos braços e as diversas formas que a necropolítica tem de assassinar o povo preto e, principalmente, dentro do Abril Verde, trazer essa cena foi muito importante. É importante para que a gente não se sinta só na luta e nesse combate. Então, a cena vem englobando tudo isso, fazendo com que a gente reflita, se una e se reconheça. Obrigada ao professor e deputado Josemar e a toda a sua equipe, que nos acolheu", disse Flávia Freitas.
Na sequencia, foram entregues homenagens a lideranças religiosas e instituições que se destacam na luta contra o racismo e a intolerância religiosa, com reconhecimento especial à defesa das religiões de matriz africana.
AxéNews também foi homenageado
O jornalista Leandro Ribeiro, diretor do portal AxéNews, recebeu das mãos do deputado Prof. Josemar uma placa de reconhecimento pelos serviços prestados à causa através da comunicação e das mídias sociais, fortalecendo a voz das comunidades de terreiro. Também foram homenageados dois colunistas da plataforma: a professora e doutoranda em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social, Tati Brandão, e o sacerdote de Umbanda e dirigente do Templo Espiritualista Aruanda, Pai Filipi Brasil.

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