Consciência negra: o poder ancestral e a luta negra pela vida
- WR Express

- 20 de nov.
- 2 min de leitura
Por: Deputada Renata Souza

20/11/2025 | 09:56
20 de novembro de 2025, eu encontro-me revisitando trechos de uma poesia de Castro Alves que denunciava os horrores do navio negreiro, escrita no ano de 1868, em plena escravidão no Brasil. Que angústia vir à tona logo no dia de hoje, um texto que expõe as atrocidades vividas por nossos ancestrais desde a travessia nos “tumbeiros”.
“...Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...”
A pergunta de Castro Alves, feita diante do horror da escravidão, atravessa o tempo e retorna hoje como um grito necessário, em um tempo em que corpos negros, favelados e periféricos seguem sendo tratados como descartáveis. Não há democracia possível enquanto a vida negra for alvo da violação sistemática de direitos..
O Dia Nacional da Consciência Negra reafirma a importância da luta histórica do movimento negro e de lideranças de terreiro. Data marcada pela reivindicação do protagonismo de pessoas negras e repúdio às narrativas que invisibilizam a história e memória de luta e construção de políticas pela dignidade das vidas negras. Em oposição ao projeto de genocídio anti-negro, a referência a Zumbi e Dandara dos Palmares nos convoca a seguir na luta pela garantia da vida e da defesa dos direitos.
Nesses caminhos, recordo-me também de uma outra poesia, essa escrita por uma mulher negra de Xangô, contemporaneamente, a Dandara Suburbana.
“...Corpo preto tem pai
Orixá dá nome
Não faz indigente”.
Esse trecho, da poesia “Exu de Frente”, aponta para o papel fundamental dos terreiros como espaços de cuidado, reconstrução e afirmação da nossa humanidade. Construídos por nossos ancestrais como territórios sagrados de liberdade e proteção, os terreiros seguem dizendo sim à nossa existência, resgatando aquilo que o racismo tenta constantemente negar: nossas vidas, nome, história, axé e dignidade.
No dia nacional da consciência negra, reafirmamos que Orixá continua dando nome em defesa de nossa existência, fortificando nossa trajetória de luta pela dignidade e afirmação de direitos. Que o poder ancestral, a força dos terreiros e a luta cotidiana por justiça nos conduzam a um futuro em que o horror não seja regra e a vida seja abundante e plena!

Deputada Renata Souza
Renata Souza é a deputada estadual mais votada da história da Alerj, reeleita em 2022 com 174.132 votos. Cria da Maré, jornalista e pós-doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, é presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM) da Alerj. Negra e de Oxum, tem atuação marcada pela defesa das comunidades tradicionais de matriz africana. É autora das leis que instituíram o Abril Verde e o Observatório Mãe Beata de Iemanjá, marcos no enfrentamento ao racismo religioso no Rio de Janeiro. Em 2024, publicou 'Pedagogia do Axé: saberes, lutas e resistência dos povos de terreiro' (Editora Aruanda), reafirmando seu compromisso ético e político com o povo de axé.
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