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117 anos de anunciado e uma eternidade de existência, porque a Umbanda é raiz, corpo e memória

  • Foto do escritor: WR Express
    WR Express
  • 15 de nov.
  • 3 min de leitura

Por: Elis Peralta

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15/11/2025 | 17:32


A Umbanda não nasceu em 1908 e nem brotou do anúncio de um jovem branco chamado Zélio, assim como uma árvore não nasce do dia em que alguém decide dar nome ao que ela já era.


A Umbanda já caminhava, curava, dançava, rezava e saravava nos quilombos, nos terreiros de chão batido, nas senzalas, nos barracões de culto congo–angola, muito antes de qualquer imprensa reconhecer sua existência.


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Mas é verdade que em 1908 algo importante aconteceu. O Caboclo das Sete Encruzilhadas escolheu um corpo branco, jovem, kardecista, para dar visibilidade ao que já existia, não porque a Umbanda fosse branca, mas porque a sociedade racista da época só escutava quando a palavra saía de determinada boca.


E isso não diminui a raiz, nem tira o brilho dos que vieram antes, e menos ainda apaga o axé preto que sustentava tudo. Significa apenas que a espiritualidade faz seu caminho, assim como a natureza, onde a terra abre passagem...


Zélio não pediu pedestal, nem se intitulou Papa, em nenhuma circunstância se colocou acima de ninguém, não explorou fé, nem vendeu cura. Enfrentou erseguição, ataque policial, tenda fechada, difamação, e seguiu, porque não trabalhava para o mundo, trabalhava para a luz. A missão dada a ele era fazer o anunciado, abrir visibilidade e não substituir raiz nenhuma.


Enquanto isso, no mesmo Rio de Janeiro, havia um gigante que a história tentou esconder. Tancredo, o Tata, sacerdote fundador da Umbanda Omolocô, defensor do tambor, da língua africana, comida de santo, das festas públicas de Iemanjá. Um homem chamado de Papa Negro da Umbanda quando isso não era elogio, mas

resistência.


Ele reafirmou, em alto e bom som, que Umbanda sem tambor e sem África não é Umbanda, e que Umbanda sem memória é corpo sem alma.


Lutou num Brasil que empurrava a Umbanda para dentro do molde branco, higienizado, domesticado, e mesmo assim a história o apagou, como sempre tentou apagar corpos negros que sustentam a própria base do país.


E é aqui que a gente precisa ter coragem de falar a verdade inteira, sem romantizar, sem jogar um contra o outro. Não existe disputa entre Zélio, Tancredo, ou de qualquer um anterior ao anunciado. Isso é briga criada pela superfície, não pela espiritualidade.


Porque quando a gente olha com os olhos do Orixá, percebe que cada um tinha sua função.


O anunciado de Zélio foi ponte, a raiz de Tancredo é o fundamento...E a Umbanda precisa dos dois, cada qual no seu papel.


Um segurou o tronco antigo, o outro abriu caminho para que a mata fosse vista.


Um afirmou a negritude sagrada num tempo em que isso podia custar vida. O outro enfrentou preconceito mesmo vindo do grupo social que mais tinha privilégio.


Um desafiou o apagamento. O outro enfrentou o fanatismo e o elitismo religioso. Mas ambos serviram ao mesmo propósito: manter viva a religião que nasce da mistura, encontro, resistência e do axé dos povos que fundaram este país.


Diminuir Zélio é ignorar a estratégia divina, apagar Tancredo é repetir o racismo que mata memória.


Tentar escolher entre eles é negar que Umbanda é encruzilhada, e não linha reta.


Assim podemos afirmar que hoje dia 15/11/2025 a Umbanda completa 117 anos de Anunciada, Validada e de visibilidade... E não de existência...


É uma religião que cria família, que acolhe quem chega quebrado, cura com erva, batuque, reza e palavra firme, que dá norte para quem perdeu o rumo.


A Umbanda que você vive, que eu vivo, que tantos vivem, é fruto de muita luta. E luta de gente preta em primeiro lugar O que nos cabe hoje não é escolher lado, é honrar ambos, lembrar de onde viemos e reconhecer quem abriu estrada.


É defender nossa fé contra o racismo, a ignorância e a distorção, erguer a cabeça e afirmar: Umbanda é do povo preto, indígena e mestiço deste país. É brasileira porque é ancestral, forte porque é resistente, luz porque nasceu da dor e transformou dor em caminho.


Saravá Zélio, Saravá Tancredo, Saravá os mais velhos. Saravá aos que mantêm viva a fé que ninguém conseguiu apagar.


E que cada um de nós, viva sua Umbanda sem perder o respeito pela raiz que sustenta tudo.




Elis Peralta - AxéNews

Elis Peralta

Elis Peralta D’Osun é sacerdotisa de Umbanda, empresária, autora e terapeuta integrativa. Sua trajetória é marcada pela busca de unir o sagrado ancestral com a vida prática, conduzindo pessoas a despertarem sua força interior e a caminharem com consciência espiritual. Criadora do Estrela Cigana Espaço Holístico desde 2007, Fundadora da Tenda de Umbanda Estrela de Aruanda (TUEA) desde 2008, Elis tornou-se referência como líder espiritual, oraculista e facilitadora de cursos que resgatam tradições da Umbanda, da cultura cigana e afro-brasileira, além de práticas xamânicas e de cura natural... [+ informações de Elis Peralta]



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