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Terreiros de Volta Redonda ganham identificação visual e reforço na segurança com apoio da Ordem Pública

  • Foto do escritor: WR Express
    WR Express
  • 7 de jun.
  • 4 min de leitura

Atualizado: há 3 dias

Iniciativa conjunta com lideranças religiosas fortalece combate ao racismo religioso

✅ 07/06/2025 | 08:24


Os terreiros de religiões de matriz africana em Volta Redonda estão mais visíveis e protegidos. Uma parceria entre a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) e a Comissão de Terreiros e Povos Tradicionais de Volta Redonda – Mojubá resultou na instalação de placas de identificação visual nos espaços religiosos atendidos pela Patrulha de Garantias Fundamentais — um programa criado para garantir os direitos constitucionais e combater a intolerância religiosa.



Segundo o copresidente da Mojubá, Pai Jeferson Medeiros, a proposta surgiu após uma reunião com o secretário de Ordem Pública, quando foi apresentado o projeto da patrulha. A partir daí, a Comissão sugeriu a criação de uma identidade visual para os terreiros.


“A Mojubá conheceu o projeto, aprovou a ideia de fortalecimento da segurança dos adeptos da religiosidade de matriz afro-brasileira e propôs, em acréscimo das estratégias de política pública, que durante o mapeamento das Casas no território do município pudéssemos acompanhar os agentes da lei na apresentação da patrulha para cada Casa comissionada, e nesta oportunidade entregar a ‘placa’ contendo dizeres sobre a implantação do patrulhamento e a segurança da minoria social.”


As placas, que identificam os espaços como monitorados pela Semop, foram financiadas pela própria comissão de terreiros, que também tem apoiado os agentes da lei no agendamento das visitas.


Segundo o secretário municipal de Ordem Pública, Coronel Henrique, a ideia surgiu da escuta ativa dos próprios religiosos. “entendemos que é pertinente esse material, com intuito de ampliarmos a sensação de segurança e até prevenir eventuais situações delituosas, gerando uma pessoalidade e um pertencimento entre os religiosos e profissionais da segurança pública”, afirmou. O coronel destacou ainda que os locais monitorados passam a integrar o sistema do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), e há planos para incorporar câmeras de segurança de uso privado, desde que atendam critérios técnicos.


O projeto, segundo Pai Jeferson, também representa um marco na relação entre as forças de segurança e os povos de axé:


“Historicamente as religiões de matriz afro-brasileira foram marginalizadas pelo Estado, e as forças policiais tiveram papel de destaque nesta política de enfraquecimento de nossa religiosidade e extermínio de nossos atos religiosos. E ter esse tipo de patrulhamento nos dias de hoje é um marco de quebra de paradigmas, que tem se intensificado com o diálogo proposto pela Mojubá, que serve de ponte de comunicação entre agentes da lei e as Casas de Axé.”


Com mais de 60 terreiros organizados no Sul Fluminense, a Mojubá se consolidou como uma liderança comunitária fundamental para o fortalecimento do vínculo entre o poder público e os povos de terreiro. Pai Jeferson destaca:


“Portanto, ter um grupo de mais de 60 terreiros do sul fluminense sendo administrador de um diálogo entre poder público e axé, torna possível que a política de segurança pública seja bem recepcionada pelo público alvo, haja vista a presença de uma organização de destaque na comunidade religiosa como garantidora de um bom diálogo entre forças de segurança e população alvo, bem como garantidora de uma escuta aberta entre o município e os terreiros.”


A receptividade por parte das lideranças religiosas tem sido positiva. Terreiros que ainda não participam da comissão também têm procurado informações para aderir ao projeto.


“Todos os pais de santo nos apontam o interesse pela política pública por entender que ela é pertinente para o reconhecimento da importância dos terreiros no território e também como um símbolo de segurança e coibição de possíveis atos de racismo religioso contra os adeptos.”


O Coronel Henrique também destacou que “a resposta foi muito positiva, principalmente com relação à sensação de segurança. Desde o surgimento da Patrulha de Garantias Fundamentais, não tivemos nenhum registro com relação à intolerância religiosa. Por isso é importante que nos mantenhamos atentos e à disposição de toda a comunidade”. E completou “Essa aproximação vai fazer a segurança pública operar de forma especializada e cirúrgica, identificando casos de subnotificações, desconhecidos pelas forças de segurança”.


Além da segurança, a iniciativa estimula a valorização da identidade e da fé afro-brasileira. Para a sacerdotisa Mãe Carla, uma das contempladas com a nova placa, a ação é um marco histórico. “Foi uma grande emoção ver que estamos amparados e recebendo respeito perante a patrulha, e automaticamente das pessoas ao ver nossa placa. Eu e a comunidade recebemos de braços abertos. Poder ter esse direito das pessoas verem e entender que é um trabalho sério, é muito importante”, afirmou.


Mãe Carla e seus filhos | Casa de Umbanda Preto Velho de Angola, patrono Rosa Caveira
Mãe Carla e seus filhos | Casa de Umbanda Preto Velho de Angola, patrono Rosa Caveira

A proposta, que já demonstra resultados — como a ausência de novos casos de intolerância religiosa nos espaços monitorados — tem potencial para ser replicada em outras cidades, segundo Pai Jeferson:


“Acredito que a iniciativa pode e DEVE ser replicada em outras cidades, porque ela é o início de uma política de proteção e reconhecimento da importância das práticas religiosas de matriz afro-brasileira. Portanto, um veículo necessário de diálogo entre sociedade, grupo minoritário e o poder público.”


Ele também reforça que qualquer política pública só é eficaz se construída junto aos seus destinatários:


“Afinal de contas, não existe política pública eficaz, e que perdure ao longo do tempo, se não houver diálogo entre o Estado e o grupo alvo de sua atuação.”


Com planos de expansão, a Prefeitura de Volta Redonda pretende ampliar o número de terreiros atendidos, investir na capacitação continuada dos agentes de segurança e consolidar a Patrulha como uma política permanente. O projeto representa um avanço no reconhecimento dos direitos dos povos de matriz africana e, sobretudo, no enfrentamento ao racismo religioso.


Como resume Pai Jeferson, “Políticas deste viés é reparação histórica, compromisso firmado na Constituição Federal e obrigação dos agentes públicos. E nós precisamos cobrar atuação neste sentido, que nos atenda, nos reconheça como cidadãos que merecem respeito, segurança e liberdade.”


“Com o amparo do órgão público, vamos romper, sim, o preconceito de muitas pessoas sobre nossas religiões de matriz africana. Esse amparo, permite aos zeladores de seguirem mas livre com suas atividades”, finalizou Mãe Carla.

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