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Segunda edição da pesquisa nacional sobre racismo religioso contra povos de matriz africana será apresentada na ONU

  • Foto do escritor: WR Express
    WR Express
  • há 1 dia
  • 4 min de leitura

O estudo traz resultados alarmantes sobre violência contra terreiros

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✅ 03/12/2025 | 11:04


Mãe Nilce de Iansã, coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (Renafro), embarcou no dia 1º de dezembro para Genebra, onde irá apresentar, no evento comemorativo do 60º aniversário do ICERD – Comitê Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, da ONU – o resultado da segunda edição da pesquisa nacional "Respeite o meu Terreiro – Racismo religioso contra os povos tradicionais de religiões de matriz africana no Brasil”, feita junto com o Ilê Omolu Oxum, tradicional terreiro de candomblé localizado na Baixada Fluminense. Ela irá falar no painel da tarde de 4 de dezembro, que coincidência ou não é o Dia de Santa Bárbara, que no candomblé é Iansã.


O estudo foi realizado em parceria com o Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), com apoio da Defensoria Pública da União (DPU) e Instituto Raça e Igualdade


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Os dados inéditos revelados sobre o racismo religioso no Brasil contidos no documento são resultado da escuta feita junto a 511 terreiros em todas as regiões do país, e funciona como um mapeamento da violência contra os povos de terreiros, revelando dimensões críticas do racismo religioso. O estudo identificou grande incidência de episódios de racismo religioso não apenas nos terreiros — com invasões e destruições de patrimônio cultural — mas também em ambientes de trabalho, de estudo, de comércio e no seio familiar. A pesquisa ainda aponta que a maioria dos criminosos descritos pelas vítimas são evangélicos neopentecostais, evidenciando um padrão estrutural de intolerância religiosa que ultrapassa espaços físicos específicos.


Os números apresentados mostram a urgência de políticas públicas protetivas: 80% por cento dos integrantes de terreiros já sofreram racismo, enquanto 97% dos terreiros entrevistados afirmam conhecer o que é racismo religioso. Setenta e sete por cento dos terreiros relataram experiências diretas de discriminação religiosa. Setenta e quatro por cento dos terreiros tiveram ameaças ou sofreram destruição por atos de racismo religioso. Os crimes ocorrem em ambientes variados: desde invasões aos terreiros até manifestações nas ruas, no trabalho, na escola, em repartições públicas e até mesmo no seio familiar.


Um achado preocupante da pesquisa é a crescente presença de racismo religioso em ambientes digitais. Cinquenta e dois por cento dos respondentes relataram ter sofrido racismo na internet, sendo as lives, oficinas e shows os principais espaços de incidência (87%), seguidos por grupos de WhatsApp (5%) e redes sociais como Facebook, Instagram, YouTube, TikTok e X (4%). Apesar da dimensão do problema, apenas 26% dos casos de racismo religioso foram registrados em Boletim de Ocorrência, indicando lacunas significativas na denúncia e responsabilização.


Mãe Nilce de Iansã destaca que "esta segunda edição da pesquisa 'Respeite o meu Terreiro' reafirma o compromisso da Renafro com a visibilidade e proteção dos povos de matriz africana. Os dados que apresentamos não são apenas números; são histórias de resistência, dor e esperança de nossas comunidades. Esta pesquisa é feita pelo povo de terreiro, para o povo de terreiro, e serve como ferramenta de mobilização para que políticas públicas realmente protetivas sejam implementadas. Precisamos de ações governamentais contundentes contra o racismo religioso e de sociedade civil mobilizada. Respeitem nossos terreiros, respeitem nossa fé, respeitem nossa existência".


Mãe Nilce de Iansã lançou o caderno "Respeite o meu Terreiro – Racismo religioso contra os povos tradicionais de religiões de matriz africana no Brasil”, com os resultados da pesquisa, no Seminário Nacional da Renafro – Envelhecer: direitos humanos e saúde na perspectiva da matriz africana, realizados nos 23, 24 e 25 de novembro no Instituto de Ciências Cociais da UnB.


A primeira edição da pesquisa "Respeite o meu Terreiro" já demonstrou seu potencial transformador. A partir dos resultados, Mãe Nilce de Iansã levou recomendações para a reunião do Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial (CERD) da ONU, realizada em 2022 em Genebra. Pela primeira vez em 20 anos, o racismo religioso foi incluído no relatório final do Alto Comissariado da ONU, que foi encaminhado ao governo brasileiro. Este reconhecimento internacional reforça a importância de ampliar o mapeamento da violência contra os povos de terreiros e intensificar a pressão por políticas públicas de proteção.


DISQUE 100 – RACISMO RELIGIOSO

Para denunciar casos de racismo religioso, a população pode utilizar o Disque 100, acionando a Polícia Militar pelo 190 em situações emergenciais ou dirigindo-se à delegacia especializada em crimes raciais mais próxima. Também é possível fazer denúncias pela plataforma Fala.Br do Ministério da Justiça e Segurança Pública e Ministério da Igualdade Racial.


PERSPECTIVAS DE RESISTÊNCIA E REPARAÇÃO

A pesquisa também documenta estratégias de enfrentamento propostas pelas lideranças religiosas entrevistadas. Cinquenta por cento dos respondentes afirmaram que algo mudou após a criação do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania, sinalizando esperança em mecanismos governamentais. As lideranças sugerem diversas abordagens para proteção diante do racismo religioso, incluindo conscientização da população, ocupação de espaços públicos, acionamento da polícia, maior fiscalização, vigilância no entorno dos terreiros e mobilização das comunidades tradicionais para a formulação de políticas públicas.

 
 
 

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