top of page

Quando Èṣù nos ensina a arte de escolher

  • Foto do escritor: WR Express
    WR Express
  • 2 de jun.
  • 3 min de leitura

Por: Mãe Kátia


02/06/2025 | 08:39


Nem sempre percebemos, mas todos os dias estamos diante de encruzilhadas. Algumas são grandes, visíveis, e exigem decisões importantes. Outras são pequenas e silenciosas — um olhar que desviamos, uma palavra que escolhemos calar, um gesto que evitamos. Ainda assim, são escolhas. E toda escolha carrega consequência.



Na tradição Yorùbá, escolher não é um ato qualquer — é um ato espiritual. E ninguém nos ensina mais sobre isso do que Èṣù, o senhor dos caminhos, das bifurcações, da dúvida criadora.


Durante muito tempo, Èṣù foi mal interpretado. Apontado como o mal, como o engano, como a confusão. Mas quem conhece sua verdadeira essência sabe: Èṣù não é o problema, ele é a pergunta. Ele não decide por nós — ele apresenta possibilidades. Ele é a consciência que nos convida a pensar antes de agir.


Èṣù é o guardião das encruzilhadas porque é ali, nesse ponto de encontro entre o que fomos, o que somos e o que podemos ser, que a vida se revela. E ele nos ensina: escolher não é simplesmente dizer “sim” ou “não”. É entender o que está em jogo. É refletir sobre porque estamos escolhendo, com que intenção, e a quem essa escolha serve.


A sabedoria Yorùbá nos lembra: “Ninguém sabe para onde vai se não sabe de onde veio.”


Isso significa que nossas decisões não nascem do nada. Elas vêm da nossa história, do nosso Ori — nossa cabeça espiritual, onde mora nosso destino. E Èṣù, como aquele que liga o céu à terra, o espiritual ao material, é quem nos convida a alinhar nossa ação com nosso propósito.


Em tempos de pressa e ruído, onde tudo exige respostas imediatas, Èṣù nos ensina a parar. A respirar. A não cair no impulso. A ter suuru — paciência. Porque uma escolha feita no silêncio do coração é muito mais poderosa do que cem decisões tomadas no ruído da ansiedade.


Não existe caminho pronto. Existe caminhada consciente.


E isso exige coragem.


Coragem para assumir que cada escolha é também uma renúncia. Coragem para não culpar o outro pelo que é responsabilidade nossa. Coragem para entender que a vida não nos oferece garantias — mas sempre nos oferece sentido, se estivermos dispostos a enxergar.


Èṣù não castiga. Ele mostra. Ele devolve. Ele ensina com espelhos. E é por isso que, nos rituais, saudamos Èṣù antes de qualquer outro Òrìṣà: porque é preciso atravessar a consciência antes de alcançar o sagrado.


Que possamos, então, fazer da escolha um ato de presença. E da dúvida, uma oportunidade de despertar.


Porque, no fundo, não se trata apenas de escolher um caminho.


Se trata de escolher quem seremos ao trilhá-lo.



Mãe Kátia - AxéNews

Mãe Kátia

Mãe Kátia é sacerdotisa dirigente do Templo Luz do Amor Divino, Ìyálórìṣà coroada na Umbanda e iniciada nos cultos afro-brasileiro e tradicional Yorubá. Além de ser a fundadora do Projeto Social Mensageiros do Amor, que já atendeu mais de 300 famílias proporcionando a melhoria da qualidade de vida em suas comunidades e levando dignidade, respeito e humanidade, a Ìyálórìṣá tem um grande histórico acadêmico: possui formação em psicanálise com ênfase na ciência da religião e nas relações do homem com o universo consciente e inconsciente e graduação em metafísica da saúde, cromosofia, cromologia e em cromoterapia. [+ informações de Mãe Kátia]


Redes Sociais do Mãe Kátia



Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews.


Comments


bottom of page