Por: Pai Denisson D’Angiles
02/01/2023 | 18:12
A tradição religiosa afro-brasileira e ameríndia denominada Umbanda agrega importantes contribuições para a sociedade brasileira, principalmente no que tange ao uso e preservação da natureza, se opondo à filosofia da dominação tão disseminada pela sociedade ocidental, onde a função do Ser Humano é subjulgá-la, apenas servindo-se dela.
Essa cultura africana no Brasil enriqueceu o conhecimento sobre ervas na sociedade, o seu contato com outras culturas como os povos indígenas e europeus, criou um complexo e diversificado saber sobre folhas. Além disso, o intercâmbio Brasil – África corroborou para a presença em território brasileiro de muitas espécies de vegetais de origem africana e asiática. É inquestionável a importância que as plantas têm em todas as culturas e em todas as épocas. Quer seja para a alimentação, para a cura de doenças ou para rituais religiosos. Dentro da liturgia da Umbanda, religião que cultua os Orixás e tradições indígenas, conhecer as folhas faz parte do fundamento religioso e da ligação homem – natureza – divindade.
Quando os terreiros de Umbanda basicamente se localizavam em território rural havia uma preocupação e a possibilidade de se manter no próprio terreiro um “espaço mato”, no entanto o terreiro ao qual nos ocupamos e a maioria dos terreiros atuais se localiza em grandes centros urbanos impossibilitando a existência de uma roça, um jardim, no próprio terreiro.
A Umbanda ao longo dos anos sofreu transformações movidas pela dinâmica da modernidade, pela sociedade de mercado, exigência do tempo cartesiano e ocidental. Muitos dos rituais foram se acomodando a essas exigências, como o horário das cerimônias, devido à violência urbana ou o incômodo aos vizinhos dos terreiros.
Sob essa ótica do Terreiro, e as adaptações que a religião teve que sofrer, destaco o acesso às folhas, muitas vezes pela falta de espaço para manter “o mato da casa”, é preciso recorrer aos mercados, feiras, ou hortas comunitárias para se conseguir as folhas necessárias para os rituais religiosos.
Reverenciar a folha e pedir licença, demonstra que o homem é apenas parte de conjunto natural e harmônico, o ser humano não é o dono de tudo, mas parte de um complexo e organizado.
No encantamento das folhas, a palavra adquire um poder de ação muito forte, porque ela está impregnada de axé, e essas palavras ritualísticas, mobilizam o axé quando pronunciada de acordo à dinâmica litúrgica. Por isso as palavras estão carregadas de emoção, da história pessoal e do poder daquele que a profere. A palavra é atuante e pronunciada no momento certo induz à ação. No universo religioso afro-brasileiro ameríndio, a fala é transmissora do saber que desperta o poder magístico da folha.
As folhas possuem vibrações, que são desenvolvidas na complexa relação orixá – natureza – homem. Os Orixás que são as representações das forças da natureza têm nas folhas um princípio que está associado aos quatro elementos, folhas de ar, as folhas de fogo; as folhas de água; e por fim, as folhas de terra. Por isso cada orixá tem características próprias e folhas que o identificam. O ser humano nessa relação se torna receptor de toda energia do orixá e da natureza.
O terreiro vivencia todas essas cosmologias através dos ritos é porque não, dos mitos, a presença das folhas converge para esse universo de relações.
Pai Denisson D’Angiles
Denisson D’Angelis, pseudônimo de Denisson Tulli De Angelis, é um polímata brasileiro, ativista dos direitos humanos, Sacerdote de Umbanda, Pai de Santo, jornalista, ortomolecular, inventor, poeta, piloto automobilístico, humorista, administrador de empresas e empresário. [+ informações de Pai Denisson D´Angeles]
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