Mulheres nos atabaques: tradição x imposição
- WR Express

- 29 de jun.
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Atualizado: 29 de jun.
Por: Cibele Martins

✅ 29/06/2025 | 21:30
A presença feminina no universo dos atabaques é uma expressão rica e poderosa dentro das tradições afro-brasileiras, especialmente no Candomblé. Esses instrumentos, que são o coração rítmico das celebrações e rituais, têm sido tradicionalmente associados a homens. No entanto, cada vez mais mulheres estão assumindo esse papel, desafiando normas sociais e reivindicando seu espaço na música e na espiritualidade.
Historicamente, o toque de atabaque foi considerado um domínio masculino, muitas vezes ligado à figura do sacerdote ou do líder religioso. Essa imposição de gênero refletiu uma visão mais ampla da sociedade, onde as mulheres eram relegadas a papéis secundários considerados pela forte influência do patriarcado e devido a reprodução do machismo. Contudo, essa tradição não deve ser vista apenas como uma barreira; ela também representa um legado cultural rico que as mulheres estão agora reinterpretando e ressignificando.
As mulheres que tocam atabaques trazem consigo uma nova perspectiva. Elas não apenas mantêm viva a tradição, mas também a transformam com suas experiências e emoções. O som do atabaque sob suas mãos é uma declaração de poder e resistência. Cada batida é uma afirmação da presença feminina em um espaço que historicamente lhes foi negado. Essas mulheres se tornam agentes de mudança, mostrando que o toque do atabaque pode ser tão feminino quanto masculino.
A prática de tocar atabaques por mulheres também desafia a imposição social que limita a expressão artística e espiritual delas. Muitas dessas musicistas enfrentam preconceitos e resistências dentro de suas comunidades, mas persistem em sua arte como forma de empoderamento. Elas se reúnem em grupos, promovendo não apenas o aprendizado técnico sobre os ritmos e as tradições, mas também criando um espaço seguro para compartilhar experiências e fortalecer laços.
Além disso, a presença feminina no toque de atabaque ressoa com outras formas de arte e cultura afro-brasileira, como o samba de roda e o maracatu, onde as mulheres desempenham papéis centrais. Essa interconexão entre diferentes manifestações culturais é fundamental para entender como a tradição pode ser preservada sem se tornar uma imposição limitante.
O ato de tocar atabaques pelas mulheres é também uma forma de conexão com suas ancestrais. Cada batida remete aos ecos do passado, às histórias contadas através dos ritmos que atravessam gerações. As mulheres que tocam não apenas honram essa herança; elas também a reinventam, trazendo novos sons e significados para os ritmos tradicionais.
Portanto, ao observar essas mulheres tocando atabaques, percebemos que elas estão em um constante diálogo entre tradição e imposição. Elas respeitam as raízes culturais enquanto desafiam as normas estabelecidas, criando um espaço onde podem expressar sua identidade plena. Através dessa prática, elas não só reafirmam sua força como também inspiram outras mulheres a reivindicarem seus direitos à voz e à arte.
Em suma, o toque feminino nos atabaques representa uma fusão vibrante entre passado e presente. As mulheres estão reocupando seus lugares ; redefinindo e resgatando o que significa ser parte dessa rica tradição afro-brasileira — não como meras seguidoras das regras impostas pelo patriarcado cultural, mas como criadoras ativas que moldam seu próprio caminho dentro da música e da espiritualidade.

Cibele Martins
Iniciei minha jornada no culto tradicional de candomblé para Oyá, pela nação do Efon, em 2014. Filha do respeitado líder religioso Babalorixa Sr. Michel de Odé e pertencente à hierarquia do Asé Egbe Efon Odé Bilori, localizado no distrito de Terra Preta – Mairiporã/SP. Asé reconhecido e interligado diretamente ao tradicional Ilé Ògún Anaweji Ìgbele Ni Oman, também conhecido como Àse Pantanal, localizado em Duque de Caxias-RJ, sob a diligência religiosa da sacerdotiza Sra. Iya Maria de Xango, a Matriarca da Nação de Efon. [+ informações de Cibele Martins]
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