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Discriminação, violência e a perseguição histórica das religiões de matriz africana no Brasil

Por: Adriano Cabral


Foto: Agência Brasil
Foto: Agência Brasil

✅ 28/01/2025 | 07:42


As religiões de matriz africana, como o Candomblé, Umbanda e Omolokô, representam não apenas sistemas de crença, mas também a resistência cultural e espiritual de comunidades afro-brasileiras. Contudo, essas tradições enfrentam um histórico de discriminação e perseguição, que se manifestam em diversas formas, desde a violência.



A perseguição às religiões de matriz africana no Brasil remonta ao período colonial, quando essas crenças foram sistematicamente combatidas pelos colonizadores e pela Igreja Católica. A imposição do cristianismo se deu através de missões que visavam a conversão dos povos africanos escravizados, considerando suas crenças como "idólatras" e "demoníacas". Essa abordagem não só buscava eliminar a cultura africana, mas também desumanizar aqueles que praticavam essas religiões.


Com a abolição da escravatura em 1888, esperava-se que as práticas africanas pudessem ser aceitas. Contudo, a discriminação e o racismo permaneceram arraigados na sociedade brasileira. As religiões de matriz africana continuaram a ser alvo de hostilidade, não apenas na forma de críticas, mas também de agressões físicas. Incêndios de terreiros, agressões a líderes religiosos e a disseminação de discursos de ódio são exemplos de como essa perseguição se perpetua até os dias atuais.


A violência contra as religiões de matriz africana é frequentemente alimentada por estigmas e um racismo profundamente enraizado na cultura brasileira. O medo do desconhecido, aliado à disseminação de informações errôneas sobre as práticas dessas religiões, resulta em hostilização das comunidades afro-religiosas. Além disso, muitos praticantes enfrentam preconceitos no cotidiano, desde a marginalização em suas comunidades até a perda de emprego e oportunidades devido a sua fé.


Essa violência não é apenas física; ela se estende ao campo psicológico, onde a constante marginalização gera sofrimento e isolamento. A necessidade de reafirmar a própria identidade religiosa em um ambiente hostil fortalece a resistência, mas também traz um fardo pesado para aqueles que desejam simplesmente praticar sua fé.


Com a popularização das redes sociais, os líderes e praticantes das religiões de matriz africana têm uma plataforma para compartilhar suas crenças e práticas. Contudo, essa visibilidade também traz desafios. Muitas vezes, práticas relacionadas a essas religiões são expostas de forma sensacionalista, criando estereótipos que descredibilizam a seriedade dos cultos e dos líderes religiosos.


Os pais e mães de santo que se dedicam a guiar suas comunidades com respeito e ensinamentos profundos frequentemente se veem desvalorizados por figuras que exploram a fé para entretenimento. Essas pessoas, muitas vezes não informadas sobre a verdadeira essência das religiões de matriz africana, promovem um entendimento superficial, que não apenas confunde os adeptos, mas também reforça preconceitos já existentes.


A realidade é que a mídia social é um campo de batalha entre a autenticidade e a superficialidade. Enquanto alguns indivíduos buscam educar e desmistificar as religiões de matriz africana, outros perpetuam uma imagem distorcida que nega a profundidade espiritual e cultural dessas práticas.


Para enfrentar a discriminação e a violência, é fundamental promover a educação e o respeito intercultural. Campanhas de conscientização que abordem o valor das religiões de matriz africana podem ajudar a desconstruir preconceitos e promover um entendimento mais profundo. Além disso, é crucial criar ambientes seguros para que as comunidades afro-religiosas possam se expressar sem medo de hostilidade.


Os movimentos sociais, juntamente com a luta por direitos civis e a promoção da

igualdade racial, desempenham um papel essencial na proteção das religiões afro brasileiras. Fortalecer a voz dos líderes espirituais que representam o verdadeiro espírito e os ensinamentos dessas práticas é imperativo para resgatar a dignidade e a visibilidade que merecem.


As religiões de matriz africana são uma parte vital da identidade cultural do Brasil, e sua história de resistência frente à perseguição e ao preconceito deve ser reconhecida e respeitada. Ao promover uma discussão ampla e inclusiva, podemos trabalhar juntos para erradicar a discriminação e celebrar a diversidade espiritual que enriquece nossa sociedade. Através da educação, empatia e respeito, podemos criar um caminho em direção a um Brasil mais justo e acolhedor para todos.




Adriano Cabral - AxéNews

Adriano Cabral

Dr. h. c. Luiz Adriano Santos Cabral (Adriano Cabral) é filósofo formado pela UCP Petrópolis; MBA em Administração Pública; Pós graduado em docência de Filosofia e Teologia; Primeiro secretário da Comissão de Combate a Intolerância Religiosa da OAB 22° Subseção Magé/ Guapimirim... [+ informações de Adriano Cabral]  


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|| Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews.

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