top of page

A escrita preta e o chamado por mais vozes masculinas na Literatura

Por: Lelo Oliver



✅ 28/01/2025 | 20:17


A escrita, ao longo da história, tem sido uma ferramenta poderosa de expressão, resistência e transformação social. No entanto, quando se trata da presença de homens negros na literatura, percebe-se uma lacuna significativa. Essa ausência não se dá por falta de capacidade ou histórias a serem contadas, mas por barreiras históricas, culturais e sociais que silenciaram essas vozes. Refletir sobre o papel do homem negro na escrita é um passo essencial para reconhecer sua importância e compreender os desafios que ele enfrenta para ocupar esse espaço.



A presença de mais homens negros na literatura é uma necessidade urgente, tanto para ampliar a diversidade de narrativas quanto para fortalecer a luta contra o preconceito. No entanto, muitos enfrentam barreiras sociais e culturais que os afastam da escrita como forma de expressão e resistência.


O racismo estrutural sempre desempenhou um papel na exclusão dos negros de espaços culturais e educacionais. Durante séculos, a população negra foi sistematicamente impedida de acessar a educação formal, e a escrita tornou-se um privilégio de poucos. Mesmo após conquistas em direitos civis, a literatura permaneceu um campo predominantemente branco, refletindo a exclusão histórica. Muitos homens negros cresceram sem ver suas vivências representadas nos livros ou autores que dialogassem com suas realidades, o que dificultou o reconhecimento da escrita como um espaço legítimo para suas vozes.


A sociedade, historicamente, restringiu o acesso dos homens negros à educação e aos espaços culturais, incluindo a literatura. Sem representatividade e modelos inspiradores, muitos crescem sem enxergar a escrita como uma possibilidade ou ferramenta de empoderamento.


A ideia de que escrever pode ser um sinal de fragilidade está enraizada em construções tóxicas de masculinidade. Muitos homens negros são socializados a demonstrar força física e emocional como forma de proteção contra o racismo, o que pode levar à repressão de emoções e à exclusão de formas artísticas que permitam a vulnerabilidade, como a literatura.


A sociedade muitas vezes impõe aos homens negros uma masculinidade rígida, baseada em força física e resiliência emocional, como forma de proteção contra o racismo. Essa construção tóxica de masculinidade leva muitos a enxergar a escrita, que exige vulnerabilidade e introspecção, como um ato de fragilidade. Além disso, o preconceito em relação à sensibilidade masculina, especialmente para homens negros, contribui para afastá-los de práticas artísticas que envolvam a expressão emocional, como a literatura.

Homens negros frequentemente enfrentam condições de desigualdade que os obrigam a priorizar a sobrevivência em vez da criação artística. A luta diária para superar barreiras econômicas e sociais muitas vezes deixa pouco espaço para que explorem suas potencialidades na escrita.


Em uma sociedade que muitas vezes invisibiliza a produção cultural negra, é difícil para alguns homens negros enxergarem o impacto que sua voz escrita pode ter. Além disso, a sensação de que as estruturas racistas invalidam qualquer esforço pode desmotivar a utilização da


Apesar dessas barreiras, muitos homens negros utilizaram a escrita como ferramenta de luta e resistência. Escritores como Abdias do Nascimento, Paulo Lins e Itamar Vieira Junior romperam o silêncio e trouxeram narrativas negras para o centro do debate literário. Suas obras não apenas amplificaram as vozes negras, mas também desafiaram as estruturas racistas e os estereótipos que permeiam a sociedade. Eles provaram que a escrita é uma arma poderosa contra a invisibilidade e a opressão, permitindo que homens negros contem suas próprias histórias e reconquistem sua humanidade.


Promover a inclusão de homens negros na escrita requer mudanças profundas. É necessário criar espaços seguros e acessíveis para que eles possam explorar sua criatividade e compartilhar suas vivências. Projetos literários, oficinas de escrita e representatividade nos currículos escolares podem inspirar novas gerações de escritores negros. Além disso, o mercado editorial deve assumir um compromisso real com a diversidade, publicando e promovendo narrativas que reflitam a riqueza e a pluralidade da experiência negra.


A escrita não é apenas um ato de criação, mas também de libertação. Para os homens negros, ela representa uma oportunidade de desafiar o silenciamento histórico, romper com os estereótipos e deixar um legado de inspiração para as próximas gerações. É urgente que a sociedade reconheça a importância de suas vozes e ofereça o suporte necessário para que ocupem seu lugar na literatura. Afinal, suas histórias não apenas enriquecem o campo literário, mas também contribuem para uma sociedade mais justa e inclusiva.


Como mudar essa realidade?

  • Educação e representatividade: Promover a literatura negra nas escolas e dar visibilidade a autores negros contemporâneos, como Itamar Vieira Junior e Paulo Lins, pode inspirar novas gerações.

  • Quebra de estigmas: É essencial desconstruir a ideia de que escrever é um ato de fragilidade, mostrando que a escrita exige coragem e é um poderoso instrumento de transformação social.

  • Criação de espaços de apoio: Projetos que incentivem a escrita de homens negros, como oficinas e coletivos literários, podem oferecer um ambiente seguro para que compartilhem suas histórias e ideias.

  • Valorização da voz negra: O mercado editorial precisa ser mais inclusivo, valorizando e publicando narrativas negras que reflitam a diversidade e as complexidades da vivência masculina negra.


A escrita é, sim, uma arma poderosa contra o preconceito, e incentivar mais homens negros a ocuparem esse espaço é um passo essencial para transformar a sociedade.



Lelo Oliver - AxéNews

Lelo Oliver

Produtor Editorial, Design Gráfico, Capista e Diagramador. CEO da Onirá Editora e do selo Novos Griôts. Com Vários Livros e Revistas produzidos e Lançados dentro e fora do Brasil. Revista Escrita Sete (Portugal, Frankfurt e em breve Estados Unidos). Foi indicado com dois livros no Aclamado Prêmio Jabuti. Foi indicado com um livro na academia Brasileira de Letras.   [+ informações de Lelo Oliver]



Telefone (Whatsapp): 21 99280-6461 


Redes Sociais de Lelo Oliver


Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews.


2 Comments


Beth Aguiar
Beth Aguiar
Jan 29

Fala Necessária!! Precisamos ocupar os espaços. Gratidão por esse texto maravilhoso!

Like

Renato Claudio
Renato Claudio
Jan 29

Muito bom!

Like
bottom of page