Por: Mãe Bianca Morelli
07/08/2024 | 09:23
Para iniciar esta reflexão, evoco um dos ensinamentos do mestre Caboclo Mirim: "A Umbanda é uma lei que tem a faculdade de despertar a vida da nossa individualidade, e assim, cada um de nós poderá realizar aquilo que sua força harmonizada pode produzir."
Essa frase nos leva a compreender que somos seres individuais, responsáveis e conscientes enquanto a comunidade religiosa nos oferece a oportunidade de nos conectarmos com nossos ancestrais, a fim de realizarmos as virtudes que nosso espírito busca alcançar.
Viver em comunidade apresenta inúmeros desafios, sendo o relacionamento entre pessoas um dos mais complexos e controversos. É necessário deixar de lado o pensamento individualista e compreender a importância da troca e convivência, abandonando o egocentrismo e aprendendo a se relacionar de forma saudável e coletiva.
Quando pensamos em pertencimento, estamos considerando a importância das relações interpessoais, entrar em uma comunidade nem sempre é sentir-se pertencente a ela.
No contexto específico de uma comunidade de axé adentrar este ambiente significa conectar-se com a própria ancestralidade, resgatar valores e repensar comportamentos que talvez sejam o desafio desta encarnação.
Chamamos nosso terreiro de casa, a liderança espiritual de Mãe e Pai, ou, como na Escola de Caboclo Mirim, de Comandante. Ainda fazem parte deste contexto diferentes indivíduos, muitas vezes desconhecidos que chamamos de irmãos. Isso nos leva a questionar o verdadeiro significado da palavra "família", precisando, muitas vezes, ressignificar o pertencimento para seguir.
Em primeiro lugar, para pertencer é necessário aceitar o chamado ancestral e iniciar sua caminhada. Na Escola de Caboclo Mirim, esses primeiros passos da escola são chamados de BOJÁ, que significa discípulo, aluno, aprendiz.
Citando a música da grande sambista Ivone Lara: "Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho. [...] Alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho".
Nessa perspectiva, entendemos que pertencer a uma comunidade está em dar pequenos passos no chão de terreiro, com humildade, respeitando as experiências vividas anteriormente, mas com disposição para viver algo que pode ser novo, pois trata-se de acreditar e se relacionar com pessoas, conquistando a confiança mútua.
Pertencer a uma comunidade é viver o chão de terreiro dia a dia, enfrentar desafios e superá-los, desconstruir e construir, aprender e, às vezes, ensinar, mas tudo no seu tempo e respeitando o ritmo da comunidade.
Aqui vale lembrar de mais um ensinamento da Escola de Caboclo Mirim: viver a Indiferença Construtiva; Isto é, não ignorar os assuntos e sentimentos alheios, nem considerar que nossas questões pessoais não são importantes para aquela comunidade.
A proposta aqui é outra: partilhar com generosidade cada fase, acolher a quem precisa com empatia, trocar experiências para somar, aproximar, mas não se envolver diretamente, ajudando na resolução das questões com resignação e maturidade.
“Aquele que não sabe se colocar na sua própria posição, isto é, devidamente harmonizado dentro de um terreiro, não poderá tomar parte daquilo que se está realizando: Estará sujeito a reações naturais que o seu próprio isolamento provoca.”
Caboclo Mirim
Bianca Morelli
Bianca Morelli, CCT (Comandante Chefe de Terreiro) e Mãe Espiritual da Tenda Espirita Luz de Maria. Terapeuta e Oraculista por amor, sou uma eterna aprendiz e estudiosa. Como terapeuta sou uma apaixonada pelos oráculos e busco equilibrar o desenvolvimento espiritual ao terapêutico fazendo com que cada indivíduo compreenda seu papel nesta encarnação. [+ informações de Bianca Morelli]
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