Por: Ademir Barbosa Junior
13/09/2023 | 10:09
Aprendi a duvidar de receitas prontas, pois costumam não respeitar a diversidade, as individualidades e particularidades. Nas religiões de terreiro, aprendemos que as Divindades têm inúmeras particularidades (que chamamos de qualidades ou caminhos), bem como individualidades (em especial, quando se trata da mediunidade de um filho e/ou da regência de uma casa). O mesmo vale para os Guias. Não existem dois Xangôs iguais, dois Caboclos iguais, duas Pombogiras iguais. Mas, então, por que este livro?
1: Porque há encaminhamentos (receitas, se quiserem) universais, com elementos comuns e que independem de individualidades e/ou particulares, sendo emergenciais ou cotidianos.
2: Porque durante o auge da pandemia de COVID-19 houve um tempo em que, para a segurança e a saúde de todos, os terreiros permaneceram fisicamente fechados, o que impediu a realização de certas ritualísticas e procedimentos presenciais. Dessa feita, outros procedimentos foram utilizados a distância, bem como a Espiritualidade assegurou que algumas firmezas - com orientação, segurança e assistência espiritual - fossem feitas nas residências, e não no próprio terreiro. No caso da T. U. Caboclo Jiboia e Zé Pelintra das Almas (TUCJZPA), a principal tem sido a Firmeza para limpeza energética pessoal. “Tem sido” porque, depois de ensinada, prescrita e aconselhada, não haveria motivo de não continuar a utilizar essas terapêuticas longe dos terreiros, desde que com orientação, segurança e assistência espiritual.
Devidamente autorizados, portanto, organizamos este livro. Infelizmente, o conceito de “feitiço” tem sido utilizado como instrumento de racismo religioso, (a despeito da religião Wicca e do sucesso de Harry Potter).
A magia nada mais é do que a manipulação dos elementos naturais, geralmente com o sopro do que se conhece como sobrenatural (a meu ver, o natural ainda não compreendido. Assim como no caso da ciência, com que intenção e para benefício de quem, ferindo-se ou não o livre-arbítrio? Este livro prima pelo respeito ao livre-arbítrio e, ao mesmo tempo, ao bem individual e coletivo.
Com respeito à sabedoria ancestral e à diversidade, a ideia é auxiliar sobretudo nos casos emergenciais básicos, na impossibilidade de se estar num terreiro ou conversar com um sacerdote, uma sacerdotisa e/ou um (a) médium experiente.
Quando lidar com ervas frescas, sempre lavá-las antes. De preferência cubra a cabeça com pano branco ou claro ao realizar as mirongas. Lembre-se de que a circulação de Axé, a troca energética não significa “toma lá, dá cá”: a Espiritualidade não é um poço de desejos a atender crianças mimadas. Prefira roupas brancas ou claras e abstenha-se de relação sexual nos tratamentos (em alguns casos, é regra, procuramos não detalhar preceitos no livro, contudo convém lembrar que não se trata de algo invasivo, mas antes de a pessoa estar mais consigo mesma). Se possível, acenda sempre uma vela como pedido de proteção e orientação para o que se vai fazer.
Eu aprendi a sentir quando a água encrespa com o vento porque o tempo vai mudar. Assim também chegam os arrepios no corpo, o eriçamento dos pêlos dos braços. Cada vibração é um arrepio diferente, nada é igual. As vibrações de luz e as vibrações pesadas trazem sensações diferentes. Vou sentindo e o próprio corpo traduz. (31/12)
Em tempo:
As religiões de terreiro não fazem proselitismo.
Diariamente vivenciamos situações de reequilíbrio para uma existência o mais plena possível, para encarnados e desencarnados, baseadas em conhecimentos ancestrais. É o que muitos chamam de milagres e curas.
Não damos testemunhos disso por entender que é algo natural, para não expor terceiros e, claro, porque as religiões de terreiro não fazem proselitismo.
Axé!
*
1 Firmeza para limpeza energética pessoal
A) Firmar o Anjo de Guarda (vela ao lado de copo d’água) e orar.
B) Ferver água e misturar sal grosso e, se houver, folhinhas de arruda (podem, por exemplo, ser 07). Acrescentar água em temperatura natural para ficar morninho, suave. Colocar numa vasilha e fazer escalda-pés durante 20 minutos.
Jogar tudo fora.
C) Em água em temperatura natural, acrescentar alfazema líquida (acha fácil em farmácia). Imersão de pés por 20 minutos. Quando terminar, enxugar os pés e não pegar friagem por meia hora.
O ideal é fazer e ir para a cama, mas, se não der, pode ser em outro horário..
Quando a vela terminar, jogar fora a água do copo (água corrente, canteiro, pia etc.).
Pode fazer 7 dias seguidos ou 01 ou 02 vezes por semana, conforme a necessidade.
Esta firmeza pode ser feita em casos de cansaço, doenças diversas, mal-estar, insônia etc. Em situações de muito desequilíbrio, cansaço ou falta de energia, sugerem-se 07 dias seguidos. Nos outros casos, pode-se fazer 01 dia, pular outro, mais 01, pular outro e mais 01 dia. No geral, pode-se ter a prática terapêutica como hábito semanal.
Em caso de febre ou feridas na área coberta pela água, evitar o passo B). Fazer apenas A) e C).
No caso de feridas na área coberta pela água, B) e C) podem ser substituídos por chá de camomila ou boldo com água em temperatura natural (preparar o chá e, depois, acrescentar água até esfriar).
“Jogar tudo” pode ser num jardim (canteiro ou vaso) ou mesmo no lixo comum. A parte líquida, se não no jardim, num canteiro ou vaso, diretamente na pia, por exemplo.
A firmeza me foi passado pelo Seu Zé Pelintra das Almas e é recomendada por diversos Guias, sobretudo por ele e pelo Caboclo Jiboia.
(BARBOSA JR., Ademir. Livro prático de feitiços. São Paulo: Editora Excelsior, 2023)
Ademir Barbosa Junior
Ademir Barbosa Júnior (Pai Dermes de Xangô) é dirigente da Tenda de Umbanda Caboclo Jiboia e Zé Pelintra das Almas (Piracicaba – SP), fundada em 23/4/2015. É Doutorando em Comunicação pela UNIP (Bolsa PROSUP/CAPES) e Mestre em Literatura Brasileira pela USP, onde se graduou em Letras. Pós-graduado em Ciências da Religião pelo Instituto Prominas, é professor e terapeuta holístico. [+ informações de Ademir Barbosa Junior]
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