Terreiros e a Crise Climática
- WR Express
- 17 de jul.
- 3 min de leitura
Por: Pai Caio

✅ 17/07/2025 | 18:50
No coração do Brasil, o Rio de Janeiro pulsa com uma riqueza cultural e espiritual
inestimável, forjada no encontro de saberes ancestrais. Em meio à grandiosidade da
natureza carioca, os Terreiros de Umbanda e Candomblé emergem não apenas como
centros de fé, mas como baluartes na preservação ambiental, ecoando a profunda
conexão de suas tradições com o meio ambiente.
Por séculos, o povo preto e indígena no Brasil foi alvo de perseguição e massacre, com
suas culturas e conhecimentos sistematicamente marginalizados. Contudo, foi da fusão de saberes indígenas e bantos que se desenvolveu uma agricultura sustentável e a construção de territórios sagrados. Esses espaços não eram apenas locais de culto,
mas verdadeiras garantias de proteção para os corpos e para a terra.
A Devoção à Natureza como Alicerce
Nas tradições de matriz africana, a natureza não é apenas um cenário, mas uma
entidade viva e sagrada. Cada elemento – as árvores, as pedras, os rios, o solo – é
reverenciado como morada de divindades e forças espirituais. Essa devoção intrínseca se traduz em práticas de comunhão e respeito pelo território.
Nos terreiros, a coexistência harmoniosa com todos os seres que dividem o solo é um
preceito fundamental. Animais, plantas e minerais são vistos como parte de um
ecossistema interconectado, onde cada elemento possui um propósito e um valor. Essa perspectiva promove um olhar de cuidado e responsabilidade para com a biodiversidade local.
As águas, em suas diversas formas – rios, cachoeiras, o mar –, são especialmente
veneradas. Elas são fontes de vida, de purificação e de sustento, tanto para o corpo
quanto para a alma. Os rituais que envolvem a água reforçam a importância de sua
preservação e a consciência de que sua pureza é vital para a sobrevivência de todos.
O solo que acolhe os terreiros é mais do que terra; é um espaço de ancestralidade, onde a memória e a energia dos antepassados se manifestam. A busca por uma relação respeitosa com a terra se reflete em práticas que evitam o esgotamento dos recursos naturais e incentivam a recuperação de áreas degradadas, muitas vezes por meio de conhecimentos tradicionais sobre o cultivo e o manejo da vegetação.
Ancestralidade e Sustentabilidade
Apesar da perseguição histórica, os terreiros se mantiveram como espaços de
resistência e de transmissão de conhecimentos. As práticas de culto à natureza não são meramente simbólicas; elas representam uma tecnologia ancestral de sustentabilidade. O manejo de plantas medicinais, o uso consciente dos recursos naturais para rituais e a manutenção de áreas verdes nos arredores dos terreiros são exemplos concretos dessa sabedoria.
São Casas Guardiãs como Ylê Asé Egi Omin, comandada pela Ya Wanda no alto de
Santa Teresa em meio a área remanescente da Mata Atlântica, a UNICA na rua
Sacadura Cabral colada na Pedra do Sal as margens da Guanabara ou mesmo a TUFAL
ao lado da Quinta da Boa Vista e no limite de onde outrora era a praia de São Cristóvão, que ajudam na preservação das matas, rios e a vida.
O Rio de Janeiro, com sua exuberante Mata Atlântica e seus corpos hídricos, encontra
nos terreiros aliados silenciosos na luta pela preservação ambiental. Eles nos lembram que o cuidado com o planeta é uma questão de fé, de ancestralidade e de respeito por todas as formas de vida. Ao reconhecer e valorizar a importância desses espaços, abrimos caminho para um futuro mais sustentável e equitativo, onde a sabedoria ancestral ilumina o caminho da preservação.
Ngunzu!

Pai Caio
Caio Bayma nasceu na Baixada Fluminense, Nilópolis, foi morar no Morro dos Macacos por conta da proximidade com o trabalho, faculdade e atuação no movimento social, hoje reside no centro do Rio de Janeiro. Graduando em Matemática, integra a equipe do Observatório Adolescente (OPPA /UERJ) no eixo de religiosidade e atuou como primeiro extensionista na Superintendência de Saberes Tradicionais da UFRJ. [+ informações de Pai Caio]
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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews. |
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