Por: Pai Caio

✅ 20/01/2025 | 07:09
Mussambé, Macaia, Jurema, Mutalambô... são apenas algumas das expressões e palavras de origem afro-diaspórica que enriquecem a liturgia da Umbanda e os terreiros distribuídos por todo o Brasil. Por essa razão, Oxóssi não é reverenciado apenas no dia 20 de janeiro, nem se restringe a uma associação exclusiva com São Sebastião.
O sincretismo religioso não é uma invenção brasileira, tampouco surgiu nos séculos XV e XVI; a relação entre Oxóssi e Mutalambô exemplifica. Oxóssi, o Orixá, não se confunde com o Nkisi Mutalambô, embora ambos tenham sido cultuados na mesma Casa de Axé, muitas vezes confundidos ou fundidos em uma única divindade. Oxóssi é uma divindade do povo iorubá-nagô, enquanto Mutalambô pertence ao contexto bantu, com características que se assemelham.
No Rio de Janeiro, feriado de São Sebastião é uma oportunidade para homenagear Oxóssi. Já na Bahia, essa festividade acontece durante o feriado de Corpus Christi, que corresponde à quinta-feira mais emblemática do calendário católico. Oxóssi, Mutalambô e São Sebastião transmitem mensagens de resistência, astúcia, paciência e assertividade a cada passo que damos nas trilhas da vida. O Orixá, Rei das terras de Alaketu, é considerado o pai da fartura e da prosperidade, além de ser o guardião da fauna e da flora, detentor dos mistérios das matas.
As cores que o simbolizam são o verde e o azul-turquesa. Entre as oferendas, ele é agraciado com milho, abóbora, feijão e amendoim. Veste-se com suas caças e folhas, e dança ao som do aguerê. Os filhos de Oxóssi são reconhecidos por suas habilidades de galanteio, apreciam a paquera, além de serem inteligentes e habilidosos. Contudo, quando vibram negativamente, reagem de forma contrária, perdendo-se em suas direções e ações.
Oxóssi também é o regente da linha de Caboclos, que preserva os saberes das ervas e os transmite por meio de nossos ancestrais, revelando os segredos de sobrevivência e cura que praticamos nos terreiros. Esses segredos, Oxóssi teria aprendido com Ossain, seu irmão, Pai das Folhas, uma divindade introspectiva de grande relevância para a existência do culto a Orixá.
Diante de tudo que se afirmar sobre Oxóssi, é importante pontuar o que ele não é:
Oxóssi não é Mutalambô
Oxóssi não é São Sebastião
Oxóssi não é São Jorge
Contudo, Oxóssi é, sem dúvida, reverenciado em cada roda de samba raiz, nas giras pelos terreiros que cultuam a ancestralidade, nas trilhas pela macaia entre rezas e oferendas, no banho de folhas, no chá que enobrece, no defumador que nos transborda. Em diversos outros contextos, a presença de Oxóssi nos ensina, cobrando retidão, coragem e boa pontaria.
Seja na Bahia São Jorge, ou no Rio São Sebastião, Oxóssi é quem manda na banda do meu coração.
Okê, Arolé!

Pai Caio
Caio Bayma nasceu na Baixada Fluminense, Nilópolis, foi morar no Morro dos Macacos por conta da proximidade com o trabalho, faculdade e atuação no movimento social, hoje reside no centro do Rio de Janeiro. Graduando em Matemática, integra a equipe do Observatório Adolescente (OPPA /UERJ) no eixo de religiosidade e atuou como primeiro extensionista na Superintendência de Saberes Tradicionais da UFRJ. [+ informações de Pai Caio]
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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews. |
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Okê, Arolé!
Muito bom! Texto necessário 👏🏻👏🏻