Por: Iyá Mônica de Obá
06/03/2024 | 06:57
Para muitos talvez seja uma discussão nova o que atualmente vem sendo falado a respeito do aquecimento da terra e as mudanças climáticas. E o que as comunidades tradicionais de terreiro, quilombolas, indígenas têm haver com isso? Foi exatamente esse assunto que levou a Sociedade da Mulher Guerreira, instituição a qual presido e sou fundadora, a estar na última conferência mundial do clima, a COP28 em Dubai.
Através da Rede Vozes Negras Pelo Clima, participamos da conferência representando a liderança religiosa de matriz africana para transmitir num espaço tão amplo e diverso a
voz de uma mulher negra, periférica, de uma religião perseguida no Brasil, desconhecida pelo norte global, que sofre com as injustiças climáticas e racismo estrutural, mas
que muito tem a contribuir com a pauta climática e preservação do planeta.
Fizemos parte da delegação brasileira com mais de 2000 pessoas da sociedade civil, mas que não teve voz diante dos líderes mundiais, proibidas de protestar com o saldo de que falamos muitas vezes de nós para nós mesmos. Contudo, a nossa própria presença incomodou, porque fomos munidas com nossas vivências, sistematizadas nas intervenções em painéis, no relatório “Nada sobre Nós, sem Nós” e nos desdobramentos das incidências políticas denunciando que a crise climática é uma crise de direitos
humanos.
Conhecer a Conferência do Clima nos possibilita reivindicar que nenhum espaço como esse, que decida sobre nossas vidas enquanto vida do planeta, se realize sem a nossa
presença. E a COP30 vem aí, será no Brasil em 2025 e precisamos ocupá-la.
Em encontro com o MIR (Ministério de Igualdade Racial) foi constatado que fui a única Iyálorixá da COP28, por mais que encontrasse pessoas de axé no evento, nenhuma foi citada como autoridade religiosa, mas sim, pesquisadores, jornalistas, estudantes, etc.
A frustração de viajar 12.373 km e não encontrar painéis que tratassem da discussão religiosa como contribuição climática, da diversidade religiosa, da falta de inclusão no
pavilhão religioso (Faith Pavilion) por não haver tradução para português mesmo o Brasil sendo um país signatário da ONU, foi grande.
E o pavilhão brasileiro, com mais de 100 temas, ter negado o painel dos espaços de fé como necessários para a preservação da natureza, culminou na certeza de que não
basta afirmarmos que “sem folhas, não se tem orixá”, não basta realizarmos coleta seletiva. Necessitamos urgentemente tratarmos da pauta sobre as mudanças
climáticas com profundidade e de maneira pedagógica para a transmissão correta aos governantes de que os nossos espaços através do conhecimento ancestral, é uma
metodologia de educação para o enfrentamento da crise climática e do racismo ambiental garantindo a segurança alimentar, bioconstruções, e agricultura familiar, por exemplo, unindo forças com boas práticas de preservação do nosso planeta, seja em nossos espaços de fé ou na extensão deles.
Iyá Mônica de Obá
Natural de São Paulo, técnica em edificações por formação, atuando por 12 anos como Consultora de Qualidade nas normas ISO9001 e PBQP-H especialista em construção civil. É feminista, capelã, ativista, Iyalorixá do candomblé nação ketu com descendência do Engenho Velho da Casa Branca - BA... [+ informações de Iyá Mônica de Obá]
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