Por: Etemí Shaiane de Lissá

04/10/2024 | 08:35
O suicídio no Brasil infelizmente se tornou um fenômeno. Hoje podemos falar que além de um grande problema de saúde pública é um dos grandes males da atualidade, seguido da depressão e ansiedade. Segundo dados do Ministério da Saúde e da Associação Brasileira de Psiquiatria, no Brasil ocorrem mais de 9 mil casos de suicídio por ano, em média 32 por dia e mata mais do que o câncer no Brasil.
O que nós como sociedade podemos fazer para ajudar tantas pessoas ,que diariamente pensam em desistir de sua vida?!!!!
Não sou psiquiatra ou psicóloga, mas como mulher, religiosa e matriarca de um Terreiro de Matriz Africana, que vivência relatos e desabafos de pessoas que já não querem mais tentar, busco compreender como a religião, nesse caso o Candomblé pode ajudar e auxiliar esses filhos e filhas.
Nossos Terreiros são abrigos para os chamados grupos de risco ao suicídio como a população lgbtqia+ ,pessoas pretas ,mulheres vítimas de violências sexuais e os adolescentes homens.
Deixo claro aqui que sou contra deixar qualquer tipo de tratamento ou acompanhamento médico, mas de que forma nós religiosos podemos somar forças aos tratamentos tidos como "tradicionais"?
São tantas perguntas e por vezes sem respostas.....
Venho refletindo e tentando entender como a religião e o ambiente da EGBÉ, pode atuar na preservação da vida dos filhos(as),evitando que sejam acometidos(as) pelo suicídio.
Sabemos que a maioria das religiões proíbem com veemência o suicídio, defendendo o valor incondicional da vida humana e eu concordo, mas me pergunto, qual o papel da religião ou do religioso no combate ao suicídio?
Difícil né?! Então....
Falarei como Sacerdotisa do Candomblé ,o Candomblé quanto religião ou prática religiosa nos gera emoções positivas, nos ensina o perdão ,a gratidão , a solidariedade ,o respeito, o amor fraterno, tudo isso aliado a bons hábitos e cuidados com o nosso Orí( cabeça) e bom caráter geram boa saúde e bem estar mental.
O Candomblé quanto sociedade religiosa deve abrigar ,cuidar e acolher um indivíduo que está acometido com algum desgaste emocional ,unindo forças ancestrais com rituais tradicionais e assim auxiliando o tratamento psicossomático e psiquiátrico.
Por mais que o suicídio pareça, uma decisão do indivíduo, ele é visto pelas ciências sociais como uma condição construída pela sociedade, um ambiente favorável para o autoextermínio ,onde hoje a internet enaltece o suicídio ,fazendo parecer o caminho certo a seguir, infelizmente.
Precisamos e devemos ser rede de apoio na nossa Egbé e para o nosso povo, devemos observar o comportamento de nossos filhos, amigos e irmãos.
Não existe uma causa para o suicídio, suas raízes são profundas e dolorosas, temos grandes estudiosos e profissionais que cientificamente comprovam a doença da alma.
Podemos como Sacerdotes e religiosos ajudar nosso povo de terreiro com o culto ao Orí, afastando os ajoguns e más pensamentos ,mas somente os especialistas médicos podem diagnosticar e medicar, nós quanto religiosos devemos cuidar do corpo e cabeça espiritual.
Não feche a porta para seu filho(a), não ache normal o comportamento de desistência, pode ser o fim se sentir sozinho(a) e não receber auxilio, sabemos nós que a fé ,a resiliência e a obediência salva!!!
Observe o povo de sua Egbé, temos grandes ajoguns que com a falta das boas práticas e cuidados como os ebós e oferendas ao ORÍ podem nos acometer.
Como a depressão, a dependência química ou alcoólica, o estresse, o desemprego, a traição, a mentira, as IDSTS e até mesmo o Bullying, são motivacionais para o pensamento suicida. Sempre que puder ouça, fale, converse, abrace e demonstre carinho, você pode salvar uma vida!
Não estou aqui afirmando que um ebó, um bori ou qualquer outro ritual pode salvar uma vida sem o tratamento médico necessário, mas afirmo e repito que os cuidados espirituais tidos no candomblé aliados aos tratamentos médicos convencionais ,sim! Com toda certeza salvarão!
A religião, a religiosidade e o Sagrado salvam!
Não fique longe de sua Egbé e nem de seu Sagrado, eles são o seu caminho, a sua verdade e sua vida!
Quando estive sozinha de gente, o Sagrado me pegou no colo e me encaminhou ajuda, hoje venho despida de vergonha ou tabu aqui, pois muitos acham que sacerdotes não ficam doentes, e digo que pensei em desistir de minha vida, o que não me permitiu foi o sentimento de ser Vodunsí e ter podido renascer uma vez, então eu jamais poderia ser ingrata ao Sagrado por me permitir nascer e renascer, fui forte, centrei meu Orí e voltei a vida.
Me pergunto quantos sacerdotes independente de religião num sofrem calados ,por medo e vergonha de buscar ajuda, pois nos é ensinado desde sempre que devemos ser fortes ,mas nós não somos de ferro!!
Sinto que como sociedade civil e povo de terreiro não estamos fazendo um bom trabalho ao que se diz respeito a prevenção do suicídio ,mas podemos e devemos melhorar!
Minhas sacerdotisas e meus sacerdotes, meus respeitos ,devemos cuidar sempre do outro ,mas nos cuidar em primeiro lugar!!!
Precisamos de atenção, respeito, cuidado, carinho e compreensão!
Se você sacerdote, ogã ,ekedjí ,Yaô ou abiã precisar de auxilio ,não hesite, não tenha vergonha, peça ajuda!
Que possamos ter mais empatia, amor e cumplicidade uns com os outros!
Hoje estou muito grata à meu Vodun e a Orunmilá pela salvação!
Que possamos ser sempre RESILIENTES!
Sejam sempre fortes e corajosos!
Epá EgunEgun
Epá Orí.
ORÍ ENI NÍ UM`NI J'OBA
A cabeça de uma pessoa faz dela um Rei!
Por Etemí Shaiane de Lissá.
Apetebi Ayafá Otura Rosso.

Etemí Shaiane de Lissá
Etemí Shaiane de Lissá (Shaiane Ezechiello). Matriarca do Kwe Lissá Ogifè/Terreiro de Obaluaye. Terapeuta holística, graduanda em História,Comunicadora do Programa Vozes Ancestrais, Coautora do livro Mulheres de Axé.
Rede Social de Etemí Shaiane de Lissá:
A religiosidade salva, entender que somos seres únicos e partículas importantes do todo pode ser crucial para dar força e seguir a jornada com amor próprio e retidão!
Que o Sagrado livre nossas pessoas de chegar a esta decisão tão triste e difícil🙏🏿
Pedir ajuda e ajudar o próximo também é ter Fé!