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O Sagrado é a Natureza

Por: Mãe Jaci



18/01/2025 | 15:07


Chegamos ao ano de 2025 com muitos motivos para nos preocuparmos com o futuro do planeta e de nossos cultos. Na última coluna, provoquei uma reflexão sobre nossas árvores e a necessidade de preservação dos espaços naturais, incluindo a própria vida humana. Porém, podemos e devemos fazer muito mais.



Alguns terreiros têm se mobilizado em campanhas de conscientização e projetos para ampliação dos conhecimentos ancestrais, que despertam o interesse popular e resultam em novas ações de plantio e cultivo. Um exemplo é o Centro Humanitário Abebé de Ouro, no município de Maricá, e o Terreiro Sustentável, no Rio de Janeiro. Esses são projetos de alta relevância para suas comunidades e que, sem dúvida, valem a pena conhecer.


No entanto, isso ainda não é suficiente. Sabemos que o planeta está em crise ambiental e que a culpa frequentemente recai sobre os mais pobres, enquanto grandes indústrias e madeireiras continuam avançando sobre a natureza em todas as suas formas, poluindo, desmatando, extinguindo e matando tudo pelo caminho. Ainda assim, nada disso muda o fato de que também temos nossa cota de responsabilidade.


Principalmente nós, povos tradicionais de culto afrodescendente e povos originários, que somos os maiores interessados na preservação dos bens naturais do Brasil e, infelizmente, os mais prejudicados pelas políticas públicas de expansão e urbanização.


Houve um tempo em que as roças de santo pouco ou nada dependiam do comércio, pois "tudo que é importante a terra dá", como dizia minha saudosa avó Gina. Ela, uma mulher preta, conseguiu alimentar seus cinco filhos durante anos com o que colhia no próprio quintal. Essa é uma história que ainda vou compartilhar com vocês em outro momento.


O fato é que, nos tempos atuais, as roças de santo já não são tão rurais. Muitas já não colhem seus frutos no quintal, não acendem lamparinas para Exu, e até as folhas sagradas são compradas no mercado. Isso contrasta com os antigos hábitos mantidos de deixar oferendas na natureza, muitas vezes utilizando materiais que podem levar mais de mil anos para se decompor no solo.


Embora isso não justifique, cria um cenário perfeito para que o racismo atue com eficiência na sociedade e nas instituições governamentais, resultando em danos imediatos aos alvos de interesse.


Nos últimos anos, testemunhamos o domínio de territórios naturais, com a proibição de acesso aos “macumbeiros”, o fechamento de fábricas e a supertaxação de itens essenciais para o uso litúrgico, impactando diretamente nossas práticas e tradições.


Será que não chegou o momento de resgatarmos os bons costumes de plantar, cultivar e colher, deixando para trás aqueles hábitos que já não nos cabem mais? Afinal, nossos ancestrais utilizavam barro, vidros e outros materiais por não disporem das informações que temos hoje. Se as tivessem, provavelmente agiriam de forma diferente, considerando o cuidado que sempre nos ensinaram a ter com a natureza.


Por isso, quero propor a você, que lê minha coluna, que pensemos juntos em estratégias de defesa e educação ambiental dentro dos nossos terreiros, em nossas comunidades e, especialmente, nos espaços de decisão política. Precisamos de projetos, ações, muita representatividade e união.


Temos muito trabalho a fazer, e o ano está só começando.

Feliz ano novo, com o axé de Mãe Oxum!




Ẹ̀gbọ́n Moyses de Ògún - AxéNews

Mãe Jaci

Jacineide Soares é Mãe Jaci, Sacerdotisa do Candomblé, formada em Gestão de Recursos Humanos pela Unigranrio. Empreendedora Cultural, escritora, palestrante, fundadora do Coletivo Colo de Mãe Preta e do CHAO - Centro Humanitário Abebé de Ouro. Presidente estadual do MOVIDADE - Movimento Democrático Afrodescendente pela Igualdade e equidade racial, e dirigente do Terreiro Casa do Abebé de Ouro, no município de Maricá, RJ.


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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews.


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