Por: Cibele Martins
24/10/2024 | 17:38
O etarismo, ou discriminação baseada na idade, é uma questão que afeta diversas esferas da sociedade, incluindo as comunidades religiosas afro-brasileiras como o candomblé. As mulheres de candomblé, muitas vezes vistas como figuras de sabedoria e respeito, enfrentam um paradoxo: enquanto são valorizadas por sua experiência e conhecimento, também podem ser subestimadas ou marginalizadas à medida que envelhecem.
No contexto do candomblé, as mulheres mais velhas, especialmente as mães de santo, são frequentemente reconhecidas por sua profunda conexão espiritual e pela transmissão de saberes ancestrais. Elas ocupam posições de liderança e são respeitadas por suas contribuições à comunidade. No entanto, o etarismo pode se manifestar quando essas mulheres enfrentam preconceitos tanto dentro quanto fora do terreiro. Muitas vezes, a sociedade em geral tende a valorizar a juventude e a beleza física, relegando as vozes das mais velhas a um segundo plano.
Dentro das casas de candomblé, as mães de santo e outras mulheres mais velhas exercem um papel crucial na formação das novas gerações. Elas são responsáveis por transmitir rituais, histórias e práticas espirituais que mantêm viva a cultura afro-brasileira. Esse ato de ensinar é uma forma de resistência ao etarismo; ao compartilhar seus conhecimentos, elas reafirmam seu valor e relevância na comunidade.
Além disso, a presença dessas mulheres idosas em posições de liderança desafia estereótipos negativos associados à velhice. Elas se tornam modelos de empoderamento, mostrando que o envelhecimento pode ser um período de grande sabedoria e influência. As mães de santo frequentemente usam suas experiências para abordar questões sociais relevantes, como racismo, sexismo e desigualdade econômica, tornando-se vozes poderosas na luta por justiça social.
O etarismo também pode afetar a saúde mental e emocional das mulheres mais velhas. Muitas vezes, elas podem sentir-se invisibilizadas ou desvalorizadas em uma sociedade que prioriza a juventude. No entanto, as comunidades de candomblé oferecem um espaço onde essas mulheres podem encontrar apoio mútuo e reconhecimento. Os rituais e práticas espirituais promovem não apenas a conexão com os orixás, mas também fortalecem os laços comunitários.
Por outro lado, é fundamental que as novas gerações dentro do candomblé reconheçam e valorizem o papel das mulheres mais velhas. O respeito pela ancestralidade é um dos pilares da espiritualidade afro-brasileira. Ao honrar as experiências passadas e aprender com elas, os jovens podem ajudar a combater o etarismo tanto no terreiro quanto na sociedade em geral.
Em suma, o etarismo representa um desafio significativo para as mulheres de candomblé. No entanto, através da valorização da sabedoria ancestral e da resistência coletiva contra preconceitos relacionados à idade, essas mulheres continuam a desempenhar papéis fundamentais em suas comunidades. Sua força e resiliência são essenciais para a preservação da cultura afro-brasileira e para a luta por uma sociedade mais justa e inclusiva.
Que a força do tempo preserve o respeito aos que vieram antes de nós.
Cibele Martins
Iniciei minha jornada no culto tradicional de candomblé para Oyá, pela nação do Efon, em 2014. Filha do respeitado líder religioso Babalorixa Sr. Michel de Odé e pertencente à hierarquia do Asé Egbe Efon Odé Bilori, localizado no distrito de Terra Preta – Mairiporã/SP. Asé reconhecido e interligado diretamente ao tradicional Ilé Ògún Anaweji Ìgbele Ni Oman, também conhecido como Àse Pantanal, localizado em Duque de Caxias-RJ, sob a diligência religiosa da sacerdotiza Sra. Iya Maria de Xango, a Matriarca da Nação de Efon. [+ informações de Cibele Martins]
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