O escândalo dos temas afro no Carnaval de 2025: uma reflexão sobre racismo e africanidade no Brasil
- WR Express
- 4 de abr.
- 5 min de leitura
Por: Adriano Cabral

✅ 04/04/2025 | 18:06
O Carnaval é uma das manifestações culturais mais emblemáticas do Brasil, onde celebração, diversidade e resistência se entrelaçam em um espetáculo vibrante. No entanto, ao longo de sua história, a escolha dos temas das escolas de samba frequentemente incitou polêmicas, revelando discursos racistas e preconceitos arraigados na sociedade brasileira. O Carnaval de 2025 exemplificou esse fenômeno ao trazer à tona um escândalo em torno da temática afro, suscitando questões cruciais sobre a percepção e crítica da africanidade no Brasil. Neste artigo, buscamos explorar as raízes desse escândalo, refletindo sobre racismo estrutural e a importância da representação cultural afro-brasileira no contexto do Carnaval.
A AFRICANIDADE NO CONTEXTO DO CARNAVAL
O Carnaval, com suas ricas tradições, é um reflexo da miscigenação cultural que caracteriza o Brasil. As influências africanas sempre foram uma parte fundamental dessa identidade, manifestando-se na música, dança, vestimentas e, especialmente, nas escolas de samba, que possuem raízes profundas na cultura afro-brasileira. Os temas afro vão além de serem um tributo à herança africana; eles oferecem uma oportunidade de explorar e dar visibilidade às questões históricas e culturais frequentemente negligenciadas pela sociedade.
A escolha de temas que abordam a cultura afro, no entanto, frequentemente suscita controvérsias. Esses temas, em vez de ser celebrados e compreendidos como parte vital da identidade nacional, são frequentemente alvo de críticas que revelam um racismo velado que permeia a mídia e a percepção pública. O Carnaval de 2025, em particular, ilustra essa dinâmica, com a temática afro se tornando o foco de uma intensa polêmica.
RACISMO ESTRUTURAL E A MÍDIA
Um dos principais veículos através dos quais o racismo estrutural se manifesta é a mídia. Reportagens e comentários, especialmente de figuras públicas de religiões cristãs que tentam se apropriar do Carnaval, frequentemente deslegitimam e ridicularizam as expressões culturais afro-brasileiras. A narrativa criada por esses meios de comunicação não apenas perpetua estereótipos, mas também marginaliza a importância e autenticidade das manifestações da cultura afrodescendente.
Quando temas como Exús, Orixás ou a história dos negros no Brasil são abordados, a cobertura mediática frequentemente escorrega para caricaturas e simplificações. Essas representações distorcidas não promovem um diálogo construtivo, mas estabelecem um espaço de exclusão e escárnio. A releitura do sagrado, sob uma luz sensacionalista, não só desrespeita a cultura afro-brasileira, mas também contribui para a perpetuação de um imaginário negativo.
A NECESSIDADE DE UM NOVO PARADIGMA
Diante desse cenário, surge a urgente necessidade de reavaliar como a mídia e a sociedade lidam com a representação da cultura negra. O racismo estrutural não é uma questão isolada; ele está presente nas narrativas que traduzem a riqueza e a complexidade da africanidade brasileira como problemas, ao invés de reconhecê-las como homenagens a um legado histórico.
É imperativo que a mídia adote uma postura crítica e consciente. Deve valorizar a diversidade cultural do Brasil, desafiando estruturas que perpetuam a marginalização de expressões afrodescendentes. Tal mudança não apenas ajudaria a construir uma sociedade mais justa e igualitária, mas também promoveria o reconhecimento da africanidade como parte indissociável da cultura brasileira.
POR QUE ESSA TEMÁTICA NÃO DEVERIA SER UM ESCÂNDALO?
A africanidade não é apenas um elemento da história do Brasil; é uma força motriz na formação da identidade nacional. Os temas afro no Carnaval devem ser vistos como celebrações de resistência, ancestralidade e da rica tapeçaria cultural que os afro-brasileiros trouxeram para a sociedade. O escândalo de 2025 revela não apenas o preconceito ainda vigente, mas a necessidade de um reconhecimento mais amplo da africanidade como um pilar central da cultura brasileira.
Entender a africanidade como uma contribuição vital à cultura nacional nos leva a um debate mais profundo sobre respeito e celebração. Em vez de focar em polêmicas menores, devemos nos concentrar em promover uma valorização genuína das culturas afro-br asileiras. Essa valorização é fundamental para desconstruir preconceitos e construir uma sociedade que respeita e aprecia todas as suas raízes culturais.
A RESISTÊNCIA DA SOCIEDADE E A HERANÇA RACIAL
O Carnaval de 2025 revelou uma triste realidade: a resistência da sociedade em lidar com as suas heranças raciais. A crítica à africanidade é mais do que uma crítica ao Carnaval; é uma crítica à nossa própria história, à nossa própria identidade. Para que possamos avançar como sociedade, é essencial desconstruir preconceitos, abrir espaço para um debate inclusivo e acolher a diversidade em sua totalidade.
Um dos caminhos para promover essa mudança é através da educação. É imprescindível que as escolas, universidades e plataformas de ensino abordem a questão da africanidade de forma ampla e respeitosa, integrando a história africana e afro-brasileira nos currículos. A educação é uma ferramenta poderosa para cultivar uma geração que compreenda e valorize a diversidade cultural, reconhecendo a importância da africanidade na construção da identidade nacional.
EXPRESSÕES CULTURAIS E O CARNAVAL
O Carnaval, sendo um espaço de expressão, deve refletir a diversidade cultural do Brasil. É uma oportunidade única para celebrar a rica herança africana e proporcionar visibilidade às questões enfrentadas pela população afro-brasileira. Ao invés de se concentrar em controvérsias, o foco deve estar na celebração das histórias que compõem a tapeçaria cultural brasileira.
As escolas de samba desempenham um papel crucial na execução e representação cultural dos temas afro. Elas têm a responsabilidade de apresentar narrativas que honrem a cultura afro-brasileira de maneira autêntica. Isso exige um compromisso com a pesquisa histórica e cultural, garantindo que os temas escolhidos reflitam verdadeiramente as riquezas e complexidades da africanidade.
O CAMINHO PARA O FUTURO
Para que o Carnaval não apenas sobreviva, mas também prospere como um espaço de celebração genuína, é essencial que haja a valorização das vozes marginalizadas dentro da cultura brasileira. Isso significa ouvir e dar espaço aos artistas, acadêmicos e líderes comunitários afro-brasileiros, garantindo que suas narrativas sejam representadas de maneira justa e respeitosa. O futuro do Carnaval deve ser construído com a participação ativa dessas vozes, transformando o evento em um verdadeiro reflexo das lutas, aspirações e identidades das comunidades que historicamente sustentam essa festividade.
A Ação Coletiva Como Catalisador de Mudanças Além disso, a mobilização social e a ação coletiva são fundamentais para desafiar e redefinir as estruturas que ainda perpetuam o racismo e a discriminação. As novas gerações, equipadas com uma compreensão crítica da história e da importância da cultura afro, podem promover mudanças significativas nas narrativas que cercam o Carnaval e, mais amplamente, a sociedade brasileira.
O escândalo dos temas afro no Carnaval de 2025 acendeu um alerta sobre a necessidade de repensar e reconstruir a conexão entre a africanidade e a cultura brasileira. Ele expôs não apenas a persistência do racismo estrutural, mas também a ausência de uma valorização adequada das contribuições afro-brasileiras à nossa identidade nacional. A partir da crítica e da reflexão, é possível transformar esses desafios em oportunidades para um diálogo mais inclusivo e respeitoso. Que o Carnaval, em sua essência, continue a ser uma celebração de diversidade, resistência e, principalmente, a reafirmação da riqueza da cultura afro-brasileira como um dos pilares que sustentam a alma do Brasil. Para avançar, é crucial não apenas reconhecer essa herança, mas também trabalhar ativamente para que todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas, garantindo que a verdadeira essência do Carnaval seja preservada e exaltada em todas as suas manifestações.

Adriano Cabral
Dr. h. c. Luiz Adriano Santos Cabral (Adriano Cabral) é filósofo formado pela UCP Petrópolis; MBA em Administração Pública; Pós graduado em docência de Filosofia e Teologia; Primeiro secretário da Comissão de Combate a Intolerância Religiosa da OAB 22° Subseção Magé/ Guapimirim... [+ informações de Adriano Cabral]
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