Pedido foi entregue ao presidente do Instituto, em Brasília
📆 26/09/2023 | 23:33
Na manhã desta terça-feira, 26/09, o presidente do Iphan, Leandro Grass, recebeu na sede do Instituto, em Brasília (DF), uma comitiva de representantes da Nação Efon, corrente do Candomblé que tem como matriz o terreiro Axé Oloroke Pantanal, no município de Duque de Caxias (RJ). Liderada pela ialorixá Mãe Maria de Xangô, a comitiva solicitou o tombamento do terreiro, fundado em 1938. A intenção é salvaguardar o local, com suas árvores, bens materiais e espaços sagrados para os filhos da nação Efon, que tem uma história ainda mais antiga no Brasil e cuja relevância, especialmente nas últimas décadas do século XX, vem sendo revalorizada por pesquisadores das religiões de matriz africana.
Originada na região de Ekiti, na Nigéria, a nação Efon é uma das muitas etnias transportadas da África para o Brasil, ao longo de séculos de escravidão, assim como os povos Banto, Iorubá e Jeje, entre outros. Ao contrário desses grupos, porém, que já se organizaram politicamente para obter, nos últimos anos, o tombamento de alguns de seus principais terreiros como patrimônios da história e da cultura do País, a Nação Efon ainda não teve o mesmo reconhecimento formal por parte dos organismos patrimoniais brasileiros - lacuna que, agora, seus descendentes esperam ver corrigida.
“É um momento único chegar até aqui. O mais importante é deixar esse legado aos meus ancestrais, da minha árvore genética e da Mãe África que chegou até aqui ao Brasil, e também deixar um legado para o futuro, para os que virão, e nunca mais ser desfeito”, destacou a matriarca Maria de Xangô, ao falar sobre a importância do tombamento do terreiro.
Na ocasião, o presidente do Iphan, Leandro Grass, destacou o esforço do Instituto e do governo federal em priorizar ações e políticas públicas voltadas à cultura de matriz africana. “Logo no início do ano, o Iphan orientou as superintendências para que priorizassem a cultura de matriz africana no orçamento. Além disso, temos aumentado a articulação com os estados para fortalecer as parcerias de preservação dos bens de matriz africana. Temos ainda uma consulta pública em andamento para construir uma portaria para o tombamento constitucional de quilombos”, afirmou o presidente.
Além da mãe Maria de Xangô, estiveram presentes na comitiva o babalorixá Diego de Airá e o pesquisador Robson Outeiro, que colaborou com o livro "Nação Efon: Memória e Identidades", lançado em julho deste ano, que entregou um exemplar autografado ao presidente do Iphan.
História da Nação Efon
Organizado, inicialmente, em um terreiro no bairro do Engenho Velho de Brotas, em Salvador (BA), o culto da Nação Efon no Brasil permaneceu centrado nesse território original pelas primeiras décadas do século XX. Fundado em 1901, a partir do plantio da árvore sagrada Iroko pelo nigeriano escravizado José Firmino dos Santos, o terreiro ganhou o nome de Axé Oloroke, em referência ao orixá patrono Oloke. Até que, devido à interrupção na linha sucessória de suas lideranças locais e à migração de alguns dos seus filhos para o eixo Rio-São Paulo, em meados do século, um novo terreiro foi fundado pelo babalorixá Cristóvão de Ogunjá, no bairro do Parque Pantanal, em Duque de Caxias (RJ). Recebendo o nome de Axe Oloroke Pantanal, o terreiro se tornou a nova matriz efetiva do Candomblé da Nação Efon no Brasil.
Segundo o babalorixá Diego de Airá - que descende de filhos da Nação Efon, embora hoje atue integrado a outra corrente do Candomblé, em São Bernardo do Campo (SP) - o fato de a Nação Efon ainda não ter um terreiro tombado pelo Estado Brasileiro não significa menor importância entre outras correntes religiosas de matriz africana no País. Pelo contrário, afirma Diego. "Quando o Axé Oloroke migrou da Bahia, seus descendentes edificaram ricas comunidades em outros estados. Tanto que arrisco dizer que, entre as décadas de 1970 e 1990, as maiores autoridades do Candomblé no Brasil descendiam da Nação Efon", diz o babalorixá.
Hoje liderada pela matriarca Maria de Xangô, neta do Sr. Cristóvão de Ogunjá, a Nação Efon busca o tombamento do terreiro Axe Oloroke Pantanal, entre outras razões, para garantir que seu território sagrado seja protegido contra atos de depredação e intolerância religiosa, que, infelizmente, têm sido frequentes no País. Para além da salvaguarda de seus espaços e bens materiais, porém, seus representantes já sinalizam a intenção de solicitar, ainda, o registro da história e da cultura da Nação Efon como Patrimônio Cultural do Brasil.
Terreiros tombados no Brasil:
Terreiro da Casa Branca, Salvador BA, 1986
Terreiro do Axé Opô Afonjá, Salvador BA, 2000
Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji, Salvador BA, 2004
Terreiro Casa das Minas Jeje, São Luís MA, 2006
Terreiro de Candomblé Ilê Iyá Omim Axé Iyamassé, Salvador BA, 2006
Terreiro de Candomblé do Bate-Folha, Salvador BA, 2006
Terreiro de Candomblé Ilê Axé Oxumaré, 2014
Terreiro Zogbodo Male Bogun Seja Unde (Roça do Ventura), Cachoeira BA, 2015
Terreiro Culto aos Ancestrais - OMO Ilê Agbôulá, Itaparica BA, 2017
Terreiro Tumba Junsara, Salvador BA, 2018?
Terreiro Obá Ogunté - Sítio Pai Adão, Recife PE, 2019
Além desses, existe outro tombamento provisório:
Terreiro Aganjú Didê da Nação Nagô-Tedô (Ilê Axé Icimimó Aganju Didè), Cachoeira BA
Fonte / Reprodução: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
🔻 Este conteúdo gerou valor para você?
Apoie o nosso jornalismo livre, independente e de qualidade.
Com sua contribuição, você nos ajuda a fortalecer nossa plataforma que é totalmente comprometida com as nossas comunidades de terreiro.
コメント