Gratidão e ingratidão nos terreiros
- WR Express
- 9 de mai.
- 3 min de leitura
Por: Mãe Bianca Morelli

✅09/05/2025 | 08:09
No silêncio da reza, entre a luz das velas e as curimbas cantadas, há algo invisível, mas essencial, que sustenta a caminhada dentro dos terreiros: A Gratidão. Gratidão é mais do que uma palavra bonita ou um agradecimento formal, é uma força viva, que se manifesta em gestos, olhares, atitudes de respeito, de cuidado, zelo e honra.
Gratidão é reconhecer que cada conselho, cada passe, cada lágrima enxugada por mãos amorosas no terreiro é uma extensão da mão divina, socorrendo almas em seus caminhos de dor proporcionando cura e esperança.
Humanos que somos, muitas vezes somos tomados pela fragilidade. Carregamos expectativas, há uma espera por reconhecimento, por retorno, por amor na mesma medida da nossa doação. E é nessa expectativa que, muitas vezes, a dor da ingratidão se instala de forma silenciosa e profunda.
A ingratidão dentro dos terreiros dói diferente, quando um filho de fé esquece as mãos que o ergueram, ou quando um médium vira as costas sem olhar para trás, não é apenas o coração do dirigente que fere, é a própria comunidade espiritual que sente o abalo. Cada terreiro é uma grande família espiritual, uma teia de amor, entrega e confiança. A ingratidão corta esses fios invisíveis e, por um instante, faz tremer as bases da fé coletiva.
É nesse momento de dor que a espiritualidade nos ensina algo maior: o verdadeiro poder da gratidão não está no que recebemos de volta, mas no que ela constroi dentro de nós. A verdadeira servidão espiritual é aquela que entrega sem exigir colheita, confiando que tudo o que foi plantado encontrará seu destino, mesmo que seja longe de nossos olhos.
Cair nas armadilhas da expectativa humana é fácil. Após muitas experiências de dor, feridos, podemos nos sentir tomados por raiva, desânimo ou até vontade de desistir, mas o chamado espiritual é permanecer com o coração aberto, firme no propósito, sabendo que a verdadeira gratidão nem sempre se manifesta em palavras humanas, mas sim nos caminhos que se abrem, nas curas que acontecem, nas almas que, em algum momento da vida, recordarão silenciosamente do bem que receberam. E, quem sabe, em algum momento, possam proporcionar o mesmo bem a outra alma necessitada, criando uma grande corrente de amor.
Caboclo Mirim, há mais de 100 anos, nos ensinou que o trabalho da indiferença construtiva é diário e constante. Esse trabalho nunca acaba, mas não por incentivar a frieza de sentimentos ou falta de empatia. Ele nos ensina a tomar a distância necessária do problema do outro para conseguir ajudar sem se envolver emocionalmente, evitando que a expectativa de retorno se torne o desejo final.
O impacto da ingratidão, quando não compreendido espiritualmente, pode gerar ressentimentos que adoecem o corpo astral do médium, do dirigente e até do terreiro inteiro. Por isso, é necessário fazer a limpeza emocional e, às vezes, espiritual: reconhecer a dor, acolhê-la, viver o luto, excluir energias negativas, mas não se deixar aprisionar pelos gatilhos mentais. Para que essa dor não se transforme em uma arma nas mãos de alguém que, com conhecimento de magia, busque usar essas energias para demandas espirituais.
A cada filho de fé que parte sem expressar gratidão, muitos outros chegam, guiados pela luz daqueles que continuam semeando amor, mesmo em meio às decepções. São aqueles que continuam acreditando em fazer o bem, sem olhar a quem.
Uma curimba de Pai Cambinda diz:
Foi o Pai Cambinda quem disse, se ajudar um filho, olhe bem ao seu redor. Se o filho não for de madeira, se ele é galho de roseira, toda ajuda vira pó.
A madeira maciça é considerada firme e resistente, não danifica com facilidade, mesmo estando exposta ao tempo, já os galhos de roseira, em especial os mais novos, são mais frágeis e suscetíveis a quebra ou danos, principalmente exposto a vento forte e ao impacto. Essa metáfora nos faz refletir sobre o tipo de filho de fé que somos e queremos ser.
A maior recompensa da missão espiritual não está nos retornos humanos, mas na paz que habita o coração de quem serve, sabendo que sua oferta é feita para o bem maior. Em cada despedida silenciosa, em palavras mal ditas ou em gestos de esquecimento, Deus sussurra ao nosso coração:
"Continue servindo. A espiritualidade vê o que os olhos do mundo não enxergam. E é ela quem recompensa, no tempo certo, e de um jeito que só o amor verdadeiro conhece."

Bianca Morelli
Bianca Morelli, CCT (Comandante Chefe de Terreiro) e Mãe Espiritual da Tenda Espirita Luz de Maria. Terapeuta e Oraculista por amor, sou uma eterna aprendiz e estudiosa. Como terapeuta sou uma apaixonada pelos oráculos e busco equilibrar o desenvolvimento espiritual ao terapêutico fazendo com que cada indivíduo compreenda seu papel nesta encarnação. [+ informações de Bianca Morelli]
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