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EU CUIDO DOS MANGUEZAIS: Povos Tradicionais de Matrizes Africanas em ativismo pela conscientização e preservação ambiental dos manguezais

Por: Rodrigo Carneiro - Babazinho


Arte: Reprodução

01/06/2024 | 14:57


São nos saberes e fazeres ancestrais da grande matriarca das divindades africanas que identificamos práticas ecológicas e referências ao ecossistema manguezal. Para os Povos Tradicionais de Matrizes Africanas a lama é a matéria-prima primordial que compõe os corpos de todos os seres vivos. O mito da criação yoruba é reconhecido a partir dos espaços naturais consagrados a divindade Nanã. A compreensão da complexidade e a importância dos manguezais permite o resgate da memória e ancestralidade dos povos tradicionais de matrizes africanas.



Nas tradições de origem africana existem elementos que demonstram de forma efetiva a utilização ou não-utilização de elementos oriundos dos manguezais, assim como a necessidade de preservação desses espaços para a sobrevivência. Algumas das interdições, chamadas de ewó no dialeto Yorubá e Kizilas no dialeto dos povos bantu, são empregadas nas culturas afro-brasileiras e africanas e podem estar relacionadas a medidas de proteção aos seres vivos que habitam aos manguezais.


O caranguejo ou aranholas como ensinado por muitas Agbás (senhora de idade avançadas com notório saber ancestral) se quer podem passar do portão dos terreiros e em muitos casos não são até mencionados pelo seu nome popular por se tratar de um ser vivo que traz consigo aspectos negativos, considerados animal remoso.


Animais remosos ou reimosos, são seres vivos que geralmente vivem nos fundos de ambientes aquáticos, se alimentam de outros seres vivos, de matéria orgânica em decomposição, alguns são ricos em gordura causando uma dificuldade de cicatrização ou inflamação em humanos. Os peixes sem escamas assim como os caranguejos e crustáceos em geral são exemplos de animais muito temidos e respeitados no culto dos Orixas, Inkissis e Voduns.


Na umbanda e no candomblé o caranguejo é proibido o consumo porque em uma das histórias oralizadas, o caranguejo teria causado as feridas da divindade Obalúwayé, e por isso foi rejeitado por sua mãe a divindade Nanã burukê. Sua mãe adotiva Yemoja, proclama uma praga a esse animal por amor a seu filho adotivo. No culto Afro-cubano a relação cultural/tradicional com esse mesmo animal é retratada de forma positiva, considerado inclusive sagrado pelos Babalawos, pois o caranguejo abrigou os tesouros de Orula em sua caverna.


Os saberes oralizados em relação aos seres vivos dos manguezais possuem um ponto em comum, o de que esses animais são seres vivos que trazem consigo aspectos que precisam de uma atenção especial, seja em relação ao seu consumo ou seu habitat.

Os ewó ou kizilas dos povos tradicionais de matrizes africanas contribuíram propositalmente ou não a partir de sua cosmovisão a preservação e a conservação dos seres vivos e do próprio espaço natural que os abrigam, os manguezais.


Os manguezais além de serem um espaço com uma mítica profunda, possuí a função de proteção contra maremotos, enchentes, amparando e amortecendo qualquer onda que venha dos oceanos em direção ao continente. Esses espaços também funcionam como berçário para muitas espécies marinhas, aves e alguns mamíferos pela ampla disponibilidade de matéria orgânica.


As raízes aéreas são uma das principais marcas desse tipo de ambiente, onde são encontrados três tipos de arvores: o mangue branco, o mangue preto e o mangue vermelho. Em relação a importância para o planeta, esses espaços são os maiores sequestradores de carbono, ou sejam eles "limpam" o ar para que possamos sobreviver.


A madeira das espécies de arvores que vivem nos manguezais são conhecidas por serem excelentes para queima, o que causa a destruição desses espaços. Por lei todas as áreas de manguezais são áreas de proteção ambiental não pode haver extração de madeira. Para proteção dos caranguejos, foi criada a lei do defeso, onde não é permitido a caça ou consumo desses animais por determinado período.


O Instituto Terreiro Sustentável, juntamente com seus parceiros no ano de 2023 criou a campanha de preservação e educação ambiental que contempla três (03) meses de ativismo em prol dos manguezais e todos os serves vivos que ali vivem. O nome dessa atividade ficou conhecida como , Ecos dos manguezais, e contou com a participação efetiva das principais autoridades dos povos e comunidades tradicionais de matrizes africanas.


No último dia 15 de maio foi lançada a campanha do ano de 2024 que se chama: Caminho das Águas - Da Nascente até os Manguezais, iniciando os 03 meses de ativismos. Assim como a campanha anterior foi aperto nas principais rede sociais o convite para instituições participarem com ações em prol dos manguezais.


O mês de maio é reservado para as articulações políticas e planejamentos das ações assim como divulgação do projeto. Em junho, mês do meio ambiente, são realizadas ações nos espaços naturais sagrados, que esse ano ocorrerá em cinco municípios simultaneamente sendo eles: São Gonçalo, Nova Iguaçu, Magé, Maricá e Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro as ações expositivas e mutirões de limpeza irão ocorrer na cachoeira da curva do S, na floresta de Tijuca e na APA das Brisas, localizada no bairro de Guaratiba.


Na primeira semana de julho, ocorrerá a formação virtual do ano de 2024, com o mesmo nome da campanha - Caminho das Águas, que terá como prioridade o compartilhamento de saberes e fazeres populares e acadêmicos para preservação dos ecossistemas aquáticos, marinhos costeiros.


Fechando o mês de julho ocorrerá a 2ª edição do Tributo a Nanã Burukê, que será realizado no Parque de Madureira, no Centro de Referência dos Povos Tradicionais de Matrizes Africanas. Esse evento tem por objetivo reunir todos os participantes das ações, condecorar personalidades que apoiaram a campanha e certificar todos os participantes da formação, assim como promover a cultura e religiosidade de Nanã e os manguezais.


A preservação e a valorização de todos os espaços naturais considerados sagrados para os povos tradicionais de matrizes africanas podem contribuir para a diminuição dos problemas causados pelas mudanças climáticas atuais.


Nunca é tarde para contribuir com o nosso planeta. Faça sua parte, junte-se a essa campanha e ajude a preservar a natureza começando pela sua casa!!


Utilize a hastags - #eucuidodosmanguezais


Saluba Nanã !!!




Rodrigo Carneiro - Babazinho - AxéNews

Rodrigo Carneiro - Babazinho

Rodrigo Carneiro - Babazinho (Iwin L'orun Egbe Tayó).

​Professor de biologia (Seeduc), Pedagogo, Mestre em ensino de ciências, ambiente e sociedade ( Uerj-Ffp) , especialista em educação étnico -racial ( Ufrrj), Sacerdote do Terreiro de Obatalá -Ile Omi Orun, fundador do Instituto Terreiro Sustentável.Atuo com educação ambiental popular de terreiro, cultura, sustentabilidade e saúde.  


Rede Social de Rodrigo Carneiro - Babazinho:


Telefone: 21 96722-2241

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