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Cosmologia: A Gênesis segundo as tradições

Por: Adriano Cabral



26/04/2024 | 07:21


A Cosmologia Iorubá é um sistema de crenças que rege a visão de mundo de acordo com a cultura do povo iorubá, um grupo étnico originário da África Ocidental, principalmente presentes na Nigéria, Benin e Togo. A cosmologia Iorubá é profundamente enraizada em suas tradições religiosas e espirituais, sendo parte integrante de sua identidade cultural.





A visão de mundo Iorubá é caracterizada por uma forte conexão com a natureza e com as divindades, conhecidas como Orixás. Segundo essa cosmologia, o universo é composto por dois níveis denominados “dublê”, Àiyé (terra) e Orún (céu), que não são locais separados existencialmente, mas, formas e possibilidades diferenciadas entre si, que não se opõe uma à outra, existindo de forma paralela apenas. Logo, o Àiyé não é um nível de existência fora do Orún, mas, um “útero que o fecunda e manifesta toda a sua criatividade ilimitada, gerando um equilíbrio”. Um não subsiste sem o outro, e desta harmonia depende todo universo e suas formas de vida. A manutenção deste equilíbrio harmônico na natureza e no ser é o objetivo das religiões de Matriz Africanas no Brasil através de suas atividades religiosas.


Os Iorubás acreditam que o Criador supremo, Olodumare, criou o mundo e delegou o controle e a influência sobre os aspectos da vida cotidiana aos Orixás. Cada Orixá possui suas próprias características, responsabilidades e domínios de influência, e é reverenciado por meio de rituais, festivais e oferendas. Os rituais e práticas religiosas desempenham um papel fundamental na cosmologia Iorubá, permitindo que os indivíduos se conectem com os Orixás e busquem orientação espiritual. A música, a dança, as oferendas e as cerimônias são elementos essenciais desses rituais, que buscam honrar e agradar, bem como manter o equilíbrio e a harmonia entre os planos espirituais e terrenos. Os Iorubás acreditam que os Orixás desempenham um papel fundamental na manutenção desse equilíbrio e da harmonia no universo.


A relação entre a cosmologia Iorubá e a Gênesis bíblica também é um tema que tem sido explorado por estudiosos e pesquisadores ao longo dos anos. Embora haja diferenças significativas entre as duas tradições, também existem algumas semelhanças e paralelos interessantes que podem ser identificados. Por exemplo, tanto a cosmologia iorubá quanto a narrativa da criação presente na Gênesis bíblica enfatizam a importância do Divino na origem e na estrutura do universo. Ambas as tradições reconhecem a existência de um Ser supremo que é responsável pela criação e manutenção de tudo o que existe. Na cosmologia iorubá, Olodumare exerce esse papel, enquanto na bíblica, é o Deus judaico-cristão. Além disso, ambas as tradições enfatizam a interconexão e interdependência entre os seres humanos, Deus e o mundo natural. Tanto na cosmologia iorubá quanto na cosmologia bíblica, a humanidade é vista como parte integrante do cosmo, com uma responsabilidade moral e espiritual de viver em harmonia com o divino e com a criação.


No entanto, é importante ressaltar que as diferenças culturais, teológicas e históricas entre a cosmologia iorubá e a tradição bíblica são profundas e significativas. Cada uma dessas tradições possui suas próprias características distintas e suas próprias interpretações da origem e do propósito do universo.


Em última análise, a comparação entre a cosmologia iorubá e a cosmologia bíblica pode enriquecer nosso entendimento da diversidade de visões de mundo presentes em diferentes culturas e tradições religiosas. Por meio do diálogo intercultural e inter-religioso, podemos aprender a apreciar as semelhanças e diferenças entre essas tradições e a cultivar um maior respeito pela pluralidade de crenças e perspectivas existentes no mundo.


Retomando nossa análise, é importante ressaltar que a cosmologia Iorubá é dinâmica e adaptável, incorporando influências de outras tradições religiosas e culturais ao longo do tempo. Mesmo com a diáspora africana, a cosmovisão Iorubá continua a ser praticada e preservada em diversas partes do mundo, influenciando não apenas a religião, mas também a arte, a música e outras expressões culturais.


Em resumo, a cosmologia Iorubá é um sistema de crenças rico e complexo que reflete a profunda conexão entre os seres humanos, a natureza e o divino. Sua visão holística do universo e sua ênfase na interconexão de todos os elementos da vida oferecem uma perspectiva única e valiosa sobre a existência e o propósito do ser humano no mundo. Diferentemente do que conhecemos como cosmogonia.


“Quando apresentamos um mito como este, existe para a pessoa que o vivencia, um efeito curativo; devido à sua participação é enquadrado nela um arquétipo de comportamento e, desse modo pode chegar pessoalmente à integralidade. Se esses arquétipos, fatos préexistentes e pré-formadores da nossa psique forem considerados como simples instintos, como demônios ou deuses, em nada altera o fato de sua presença atuante em nós. Mas fará certamente uma grande diferença, se nós os desvalorizarmos com simples instintos, os reprimindo como demônios, ou os supervalorizarmos como deuses”. Carl G. Jung.


Nesta citação, Carl Jung está discutindo a importância da Cosmogonia dos mitos e arquétipos na psique humana. Ele explica que ao apresentarmos um mito a alguém, isso pode ter um efeito curativo, pois a pessoa pode se identificar com o arquétipo de comportamento presente no mito e assim alcançar uma maior integridade pessoal. Jung ressalta que mesmo que esses arquétipos sejam considerados como instintos, demônios ou deuses, sua presença em nós é real e atuante. Porém, Jung destaca a diferença que faz a forma como encaramos esses arquétipos. Se os desvalorizamos como simples instintos e os reprimimos, ou se os supervalorizamos como deuses, isso pode influenciar a nossa relação com eles e o impacto que têm em nossa psique. Ele sugere que é importante reconhecer e integrar esses arquétipos de forma equilibrada para um desenvolvimento saudável e integral da nossa personalidade.


E é por isso que Gênesis Iorubá não se encaixa perfeitamente nas categorias tradicionais de cosmologia ou cosmogonia, utilizadas principalmente na cultura ocidental. Dentro da tradição Iorubá, há uma complexa interconexão de mitos, crenças, práticas religiosas e visões de mundo que abordam a origem, a estrutura e a natureza do universo de uma maneira holística e integrada diferentemente da Cosmologia Bíblica ou de uma simples cosmogonia. Os “mitos” Iorubás frequentemente abordam a criação do mundo e a interação entre Orixás e seres humanos, mas essa compreensão é profundamente enraizada em uma cosmovisão e prática religiosa mais ampla do que simplesmente uma narrativa de origem.




Adriano Cabral - AxéNews

Adriano Cabral

Dr. h. c. Luiz Adriano Santos Cabral (Adriano Cabral) é filósofo formado pela UCP Petrópolis; MBA em Administração Pública; Pós graduado em docência de Filosofia e Teologia; Primeiro secretário da Comissão de Combate a Intolerância Religiosa da OAB 22° Subseção Magé/ Guapimirim... [+ informações de Adriano Cabral]  


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