Por: Babalawo Fabio Soares Bastos

✅ 31/01/2025 | 11:09
“Fazer santo” é ser iniciado na religião dos Orixás, tradicionalmente conhecida na América como "Regra de Osha ou Santería", no Brasil como Candomblé. A iniciação busca levar a pessoa ao reencontro de um determinado comportamento arquetípico, aquele que é atribuído ao seu orixá ou a um falecido divinizado como no caso dos povos Bantus.
Todos os seres humanos possuem, em potencial, inúmeras tendências e faculdades que permanecem em estado de vigília. As experiências vividas pelo indivíduo, o exemplo dos mais velhos, os princípios incutidos pela educação e a censura do meio social, fazem com que apenas algumas dessas tendências e faculdades inatas possam expandir-se, resultando na criação de uma personalidade aparente, diferente daquilo que ele poderia ter tido se tivesse estado em um ambiente onde os valores morais e os princípios aceitos fossem diferentes.
A iniciação consiste em ressuscitar no neófito, sob certas circunstâncias, aspectos dessa personalidade oculta; aqueles correspondentes à personalidade do ancestral divinizado (orixá) presente nele, em estado latente. Não se trata de lavagem cerebral, pois a personalidade do iniciado não é modificada; apenas seus pontos de contato com aqueles pertencentes ao arquétipo da divindade tutelar são destacados.
Se, no caso de, no indivíduo, as faculdades correspondentes ao orixá e o comportamento arquetípico (modelo) de ambos coincidirem, não haveria então necessidade de ser iniciado. Nesse caso, a linhagem espiritual não foi perdida, pois os padrões de comportamento impostos desde a infância coincidem com os padrões de sua divindade tutelar. Exemplo disso são pessoas que vivenciam a religião por anos e não se consagram, se mantém sempre cuidado do Ori e do Orixá em questão apresentado por Ifa. Unem assim o conhecimento de sua missão com a personalidade já destacada.
Ser iniciado sem levar em conta esses padrões poderia levar ao fracasso do indivíduo e de todas as conquistas alcançadas em sua vida terrena e espiritual. A iniciação é a ressurreição de um ancestral divinizado, por meio da qual os iniciados recebem novas atitudes, diferentes daquelas que lhes causaram graves problemas existenciais. Adotam um novo nome, barbeiam-se como uma criança recém-nascida, vestem-se com novos trajes religiosos e impõem-se-lhes padrões de comportamento para uma nova vida, semelhantes à vida contada em certas lendas iorubás, que são selecionadas para tal caso, consultando o oráculo (Dìlógún) da divindade tutelar (Cerimônia de Itá). Portanto, a iniciação constitui uma instituição vital para ensinar e preparar o neófito, que ultrapassa os limites do conhecimento dos valores de sua sociedade em direção à compreensão da razão e da origem das coisas passadas.
O indivíduo iniciado não é mais um ser à deriva, mas um ser formado e completo. Tendo assim o comportamento que lhe proporciona realizações e benefícios, pois corresponde aos padrões de sua divindade tutelar.
Para que um sacerdote possa determinar, com certeza, se uma pessoa pode ou não ser iniciada, ele deve levar em conta a origem do problema. Seja isso correspondente à influência negativa do ambiente, aos julgamentos de pessoas maliciosas ou simplesmente à deterioração ou desvio de seu comportamento predestinado.
Por outro lado, embora a iniciação dentro da regra de Orixá não constitua um recurso terapêutico, a adoração das pedras (Okuta) assegura por reciprocidade, uma idade avançada nos noviços. Mas para alcançar uma iniciação completa, é preciso levar em conta a comunhão e a reciprocidade entre Orixá e Ifá, das quais infelizmente muitos se distanciaram. Ifá representa, de certa forma, o conceito da ressurreição. Para que entendamos melhor esse conceito, devemos pensar que os espíritos, em sua evolução cíclica, transitam ordenadamente do Supremo para as pedras; das pedras às árvores; das árvores aos animais; e, finalmente, dos animais eles vêm diretamente para exteriorizar e vivificar o ser humano, criando nele uma consciência sobre a origem do universo, sua evolução e o fim da existência. Após a morte do indivíduo, as almas retornam a Olódùmarè para então retomar o mesmo ciclo progressivo. Essa transição é o que é usado e levado em consideração em nossas tradições para realizar os ritos e completar as iniciações. É por isso que Ifá é tão importante em todas as consagrações iorubás. Os símbolos básicos de IFA são, por excelência: pedra, sementes e a cabeça de um determinado animal; representando os três reinos da natureza que são mantidos em um recipiente sagrado e que formam uma parte essencial do plano espiritual progressivo. Da mesma forma, na morada dos ancestrais ou residência de Olódùmarè (entranhas da terra) residem, essencialmente, pedras, sementes e ossos; As sementes sagradas de Ifá, por outro lado, representam a ideia da ressurreição das almas como sendo, entre os três elementos simbólicos da vida após a morte, aquela que brota repetidamente na eternidade do tempo. Portanto, Ifá é considerado o motor de partida de qualquer um dos ritos e cerimônias que são realizados dentro do ambiente tradicional iorubá. Assim sendo, a sabedoria ancestral desenhada pelos odus de IFA determinam, claramente, o motivo da consagração de um orixá levando em consideração, especialmente, a vida humana e suas inúmeras nuances sobre a terra. Se detectado que a experiência de um ser não convém à sua felicidade, se determina sua reconstrução. Sendo assim, a “feitura de santo” ou Kari Osha é a chave para abrir a porta que a experiência terrena ou a fragilidade do espírito necessita para se manter e se desenvolver diante tal jornada.
🔰IFA, seu destino em suas mãos!

Babalawo Fabio Soares Bastos
Babalawo Fabio Soares Oyekun Berdura, sacerdote de IFA da rama Afrocubana. Tem 37 anos, casado, pai de 2 lindos meninos. Natural do Rio de Janeiro - RJ. Doutor Honoris Causa pela Faculdade Febraica e pela Ordem dos Capelães do Brasil. Formado em Gestão pública, Licenciado em Ensino Religioso. Pós graduando em Neurociência, Comunicação e Desenvolvimento Humano. Músico, Analista comportamental e parte integrante do grupos Religare(Exporeligião). Colóquio Interreligioso e grupo InterFé, por crer que a informação é a melhor ferramenta contra o preconceito. [+ informações de Babalawo Fabio Soares Bastos]
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Artigo de Opinião: texto em que o(a) autor(a) apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretações de fatos, dados e vivências. ** Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do AxéNews. |
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