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Cidadania de papel: marcador social de execução do racismo recreativo

  • Foto do escritor: WR Express
    WR Express
  • 28 de abr.
  • 4 min de leitura

Por: Jacqueline de Òbá

28/04/2025 | 08:02


O texto em questão trata de três conceitos que juntos elaboram o cenário perfeito de discriminação, preconceitos, injúria racial de modo peculiar na forma como funciona o racismo em sua dimensão recreativa. Não só, mas, na dinâmica de construção das relações

sociais que historicamente foram modeladas a fim de promover o genocídio do negro brasileiro. Por isso, saber identificar a raiz política do racismo nos coloca diante do projeto teórico-crítico e metodológico do Estado Brasileiro.



Em 1994, Gilberto Dimenstein publica um livro, chamado, O cidadão de papel – a infância, a adolescência e os direitos humanos no Brasil, vencedor do prêmio Jabuti na categoria não ficção. A obra tem como mote analisar a situação das crianças em situação de rua e a cidadania no país. Não, obstante é fundamental caracterizar a cidadania de papel como a sistematização do Estado Moderno Brasileiro, responsável por produzir violências físicas e simbólicas como estratégia de manutenção das desigualdades sociais. A exemplo, de crianças e pessoas em situação de rua.


Segundo, pesquisa realizada pelo Observatório do Terceiro Setor (2023), existe, hoje, no Brasil 70 mil crianças em situação de rua e vulnerabilidades; dessas, 51% estão em situação de extrema violação de direitos; 85% são de crianças negras e a maioria do sexo masculino. Nesse sentido, interseccionalizar o debate é caminhar na direção de compreender que a cidadania de papel enquanto marcador social vai de encontro a interação simultânea das, e com outras avenidas identitárias (AKOTIRENE, 2019).


O conceito de Cidadania de Papel tangencia o de Racismo Recreativo marcam socialmente o modus operandis de execução do Estado, este por sua vez, é cumpridor do monopólio da violência física e simbólica legítima², diversas vezes latente, e daí seu caracter recreativo, porém presente como uma entidade que se manifesta enquanto campo da função pública no assegurar de direitos apenas no papel. Na contração, cabe ressaltar que a cultura pública do desrespeito, nas palavras de (MOREIRA, 2019) é a cultura de um projeto racial que se aperfeiçoa de acordo com o tempo e espaço geográfico, lê-se a perspectiva de espaço geográfico como um espaço social resultante da atividade humana, no qual o tempo se torna indissociável e imprescindível à sua compreensão. Na sequência, é muito importante pensar que os movimentos sociais circundam o campo administrativo na tentativa de reivindicar uma voz posta à margem, vista como subalterna e desprovida de qualquer significado e ação prática que contribua com a transformação da sociedade brasileira. Apesar de, temos observado, ainda que de forma tímida, avanços na esfera legislativa, no que tange aos mandatos populares, cujas lideranças são de mulheres negras (em sua maioria) e homens negros, e que trazem para tribuna os debates de maior urgência da população negra e maiorias excluídas. De certo, se faz imprescindível de que essas conquistas sejam levadas em consideração. Todavia, ainda é necessário que os campos políticos progressistas tenham em sua agenda o desafio político de encarar o racismo em toda sua forma de existência e manifestação como uma grande barbárie à democracia; Um ataque à dignidade humana; À educação; Aos direitos humanos e as liberdades individuais, incluindo a liberdade religiosa, que tem sido um dos alvos de maior incidência, como a morte simbólica, após o alto índice de letalidade ao falarmos da população negra.


PARA FIM DE CONVERSA...

É preciso saber que não há exclusividade de caminho! Contudo, existem possibilidades que podem ajudar a sulear as andanças e reORÍentar de que modo utilizaremos as encruzilhadas dos Orixás a nosso favor. Na medida em que adentrarmos ao tempo da memória, erceberemos que a matemática do que considero como uma pedagogia das águas de barro, está em justamente desprogramar o que a colonialidade fez de nós, e tomarmos para o coletivo a posição do surdo na bateria. Pois, a decisão precisa ser nossa! És que a urgência dos dias toma posse de uma existência que clama por sobrevivência, e só sobreviveremos juntos!


Ao poeta de tempos antigos eu repito:

Tem gente com fome

No trem lotado de camelôs de Santa Cruz

Tem gente com sede

Tem gente alienada

Tem gente petrificada

Tem gente amordaçada

Piii

Estação de Senador Camará

De novo a dizer

De novo a correr

Trem-Estado a dizer

TEM GENTE MORRENDO DE FOME!


REFERÊNCIAS 

BOURDIEU, Pierre. Sobre o Estado. São Paulo: Companhia das Letras, 2014

AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

MOREIRA, Adilson. Racismo Recreativo. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen, 2019.

Dimenstein, G, (1994). O Cidadão de papel: a infância, a adolescência e os direitos humanos no Brasil. São Paulo: Ática

Trindade, S. (1981). Tem gente com fome e outros poemas. São Paulo: Brasiliense. [Citado em 2025, abril 24] [http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/429-solano-trindade]



Jacqueline de Obá - AxéNews

Jacqueline de Obá | Professora

Jacqueline de Òbá é professora da Educação Básica (AAEE - SME/RJ), Técnica em Educação Especial com aperfeiçoamento em atuação do profissional de apoio escolar no processo de inclusão de alunos com deficiência promovido pelo Instituto de Letras e Linguística da Universidade Federal de Uberlândia. Graduada em Letras Clássicas - UFRJ; Pesquisadora de Literaturas Africanas/UFRJ; Escritora; Articuladora e Mobilizadora Cultural; Mulher de Àse da Tradição de Èfón (Egbomi) e dirigente da Casa de Umbanda Vovó Cambinda do Cruzeiro das Almas e Caboclo Curié da Mata.


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Artigo de Opinião: texto no qual o(a) autor(a) expressa e defende suas ideias, interpretações e vivências sobre determinados temas. As opiniões aqui apresentadas são de responsabilidade do(a) autor(a) e compõem a diversidade de vozes que o AxéNews valoriza e apoia.


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