Por: Pai Dário
28/06/2024 | 11:50
Falar de mãe Nitinha, Yá Nitinha, é lembrar de Oxum em suas diversas apresentações. Como meu saudoso Papai Flávio de Oxaguiã contava, ela dizia que Oxum era a deusa das águas doces. Mas não existe só um tipo de água doce, existem as águas doces das minas, das fontes, dos rios caudalosos, a pororoca, os rios que tem as cachoeiras como suas nascentes e que se tornam grandes correntezas. Oxum é a cabeça d’água, a água doce do poço. Todas essas águas são Oxum.
Mãe Nitinha era tudo isso. Uma grande mãe, mulher, uma líder, uma candace! Uma mulher preta, guerreira, que vem da Bahia e faz sua história no Rio de Janeiro, sem abandonar suas raízes e seus laços ancestrais em Salvador. Mãe Nitinha dedicou sua vida à Casa Branca do Engenho Velho e ao Ilê Axé Yá Nassô Oká – Ilê Oxum, em Miguel Couto/RJ, casa que ela construiu e iniciou inúmeras pessoas. Quando falo sobre esta grande ialorixá eu me emociono verdadeiramente, mesmo não tendo a convivência de pessoas que tiveram 40, 50, 60 anos de vida ao lado dela. Mas a força dessa ancestral é tão grandiosa, que nós, filhos de santo de Miguel Couto, filhos de mãe Nitinha - que dizia ser mãe de todo mundo, porque Oxóssi não dava neto -, temos muita honra de sermos seus filhos. A sua energia, sua essência, seu nome, nunca vão morrer!
Quando temos um documentário sobre a sua história, dirigido por Caco Monteiro, temos um importantíssimo registro da cultura do povo preto através do audiovisual. Mas nós, povo de terreiro, também temos o registro ancestral, o registro da tradição oral. O registro de sentir a ancestralidade no nosso interior quando é jogada uma água no nosso ori, quando lavamos nosso rosto, quando nos deitamos à frente da cadeira que ela sentou por tantos e tantos anos. Ou então, quando passamos pelo barco de Oxum da Casa Branca, sentimos a essência e a presença de Mãe Nitinha.
Que Oloxundê nos abençoe hoje e sempre! Que seja um documentário de muito sucesso e que seja visto, assistido, em muitas e muitas telas. Que com este documentário, quem não teve o privilégio de conhecer Mãe Nitinha, possa conhecer a essência dessa grande mulher, Areonithe Conceição das Chagas, minha Mãe Nitinha de Oxum, a mãe de todos, a Yalodê do Brasil. Meus respeitos a Mãe Nitinha, meus respeitos a esse axé e todo o ensinamento que ela nos deixou e que vem sendo perpetuado de geração para geração. Os bons frutos que ela deixou, deram boas sementes e eu sou fruto do fruto de Yá Nitinha, porque eu sou fruto de Papai Flávio de Oxaguiã e sou fruto de minha Vó Florzinha.
Que todas as bençãos caiam sobre as mãos e o Orí de nossa Yá Débora de Oxum, herdeira de Yá Nitinha, sua sucessora e sua neta biológica, que está à frente do terreiro. Nossa Yalórixá.
Não deixem de assistir ao documentário "As águas do Rio de Yá Nitinha D’Oxum".
Pai Dário de Ossain
Eu sou um homem negro, babalorixá do Ilê Axé Oníṣègùn, cria da favela da Serrinha em Madureira. Sou jongueiro por tradição, do samba, cria do Império Serrano, educador, gay e militante dos direitos humanos. Sou o resultado do encontro entre esses universos pretos que dão vida não só a quem sou, mas que são expressão de territórios, pertencimentos, ações e movimentos que impulsionam a construção de um viver com dignidade e abundância... [+ informações de Pai Dário]
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