Por: Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá
02/07/2024 | 16:51
No âmago das religiões de matriz africana, a essência da nossa força reside nas egbés, as
famílias de Orixá. Cada egbe é um microcosmo de dedicação, espiritualidade e tradição, e a união dessas famílias é imperativa para a resistência e a existência contínua da nossa fé.
Em tempos de desafios crescentes e ameaças à nossa herança cultural, a coesão e a
solidariedade entre as egbés são mais vitais do que nunca.
A união das egbés fortalece o nosso axé coletivo. Quando as famílias de Orixá se
respeitam e se valorizam mutuamente, criam uma rede de apoio e proteção que transcende
as barreiras individuais. Essa interconexão não só nos torna mais resilientes diante das
adversidades, mas também amplifica a nossa voz na luta por direitos e reconhecimento.
Juntos, somos mais fortes para combater o racismo, a intolerância religiosa e a discriminação que ainda afligem nossas comunidades.
O respeito mútuo entre as egbés é a pedra angular dessa união. Reconhecer e valorizar as
diferenças e as particularidades de cada família de Orixá não enfraquece, mas enriquece a nossa tradição. Cada egbe traz consigo uma história única, saberes ancestrais específicos e práticas que, quando compartilhadas, fortalecem o tecido cultural e espiritual do Candomblé. O
respeito e a valorização dessas diversidades internas são fundamentais para uma convivência harmoniosa e próspera.
A união das egbés também é crucial para a preservação e transmissão das tradições. Quando as famílias de Orixá colaboram e compartilham conhecimentos, garantimos que os ensinamentos ancestrais sejam passados de geração em geração de forma autêntica e
íntegra. Essa coesão é a chave para manter viva à nossa herança cultural e espiritual, resistindo às tentativas de apagamento e assimilação cultural.
Além disso, a solidariedade entre as egbés potencializa a nossa capacidade de ação social. Projetos comunitários, atividades educacionais, e iniciativas de preservação ambiental são exemplos de áreas onde a união faz a diferença. Trabalhando juntos, podemos ampliar o alcance e o impacto dessas ações, promovendo o bem-estar não só dos nossos membros, mas de toda a sociedade.
A valorização das egbés de Orixá implica também na valorização de cada membro dentro delas. Desde os líderes espirituais até os mais novos iniciados, cada pessoa tem um papel crucial no fortalecimento da nossa fé. Reconhecer e honrar essas contribuições individuais é essencial para construir uma comunidade coesa e comprometida com os valores do Candomblé.
Em suma, a união, o respeito e a valorização mútua entre as egbés de Orixá são fundamentais para a nossa resistência e existência contínua. Apenas através da coesão e da solidariedade podemos garantir que as tradições de matriz africana continuem a florescer, enfrentando e superando os desafios do presente e do futuro. Com a união das nossas famílias de Orixá, reafirmamos o nosso compromisso com a preservação da nossa herança cultural e espiritual, construindo um futuro onde a nossa fé é respeitada, valorizada e celebrada em toda a sua profundidade e beleza. A Essência do Candomblé: A Vital Importância dos Filhos de Santo e a Falácia do Egoísmo Sacerdotal.
No coração pulsante do Candomblé, a sinergia entre sacerdotes e filhos de santo forma a base inabalável sobre a qual nossa fé é construída. Contudo, uma preocupante tendência se destaca: o pensamento egoísta de alguns sacerdotes que acreditam não precisar de seus filhos de santo. Essa visão errônea não apenas debilita a comunidade, mas também desrespeita as profundas raízes da nossa religião, onde cada indivíduo desempenha um papel crucial.
Todo sacerdote, antes de alcançar sua posição de liderança, trilhou o caminho como filho de
santo. Ele também necessitou de orientação, aprendizado e serviço. A jornada de um líder
espiritual no Candomblé começa com a humildade de ser um iyawo, aquele que se dedica a compreender e conectar-se com os Orixás através do serviço e da devoção diária.
Sem os iyawos, sem os filhos de santo, o Candomblé simplesmente não existiria. À
estrutura espiritual e comunitária de nossas casas de santo depende da colaboração
incessante, do respeito mútuo e da reciprocidade. É um ciclo contínuo de aprendizado e crescimento, onde cada membro, independentemente de sua posição, contribui para a perpetuação e a vitalidade da tradição, Os filhos de santo são a força motriz que anima e sustenta as práticas religiosas. Cada tarefa, por menor que pareça, é um ato de devoção e
uma contribuição vital para a manutenção do axé da casa. Sem esses dedicados filhos de
santo, o sacerdote estaria isolado, incapaz de manter sozinho a complexidade e a beleza das
cerimônias do Candomblé.
Além das tarefas físicas e espirituais, os filhos de santo necessitam de carinho, atenção e
reconhecimento. A carência emocional e o desejo de pertencimento são aspectos
humanos fundamentais que não podem ser ignorados. Um verdadeiro líder espiritual deve
ser sensível às necessidades de seus filhos, oferecendo suporte, orientação e amor. Esse
cuidado não apenas fortalece a comunidade, mas também cria um ambiente onde todos se
sentem valorizados e essenciais.
A crença de que um sacerdote pode se sustentar sozinho é uma ilusão perigosa, que pode levar à fragmentação e ao enfraquecimento da comunidade. O Candomblé é, por essência, uma religião comunitária, onde cada membro é um pilar essencial na construção do templo espiritual. Sem filhos de santo dedicados e comprometidos, não há continuidade, não há crescimento, e a chama da tradição corre o risco de se extinguir.
Para construir um Candomblé forte e resiliente, é imperativo que os sacerdotes reconheçam e valorizem a importância de seus filhos de santo. Devem lembrar de suas próprias jornadas, de quando eram aprendizes, e oferecer a mesma paciência, dedicação e amor que um dia receberam. Apenas assim, com união e respeito mútuo, podemos garantir que nossa religião continue a prosperar e a iluminar as vidas de todos os seus seguidores.
Devemos continuar a valorizar aqueles que, com dedicação e amor, fazem o Candomblé
acontecer todos os dias. O reconhecimento dessas pessoas é fundamental, são extremamente importantes para o ilê, para a comunidade e para o sacerdote.
A construção de um Candomblé autêntico e duradouro depende do esforço coletivo e da
valorização de cada indivíduo que dedica sua vida à preservação e ao crescimento da nossa
fé. Com essa consciência, asseguramos um futuro onde nossa tradição é respeitada, nossos valores são preservados e nossa comunidade prospera com força e união.
No universo sagrado das religiões de matriz africana, cada detalhe, cada gesto e cada
dedicação têm um significado profundo e duradouro. Valorizar os bons filhos de Orixá,
aqueles que demonstram um compromisso inabalável com a casa e com o sagrado, é
essencial para manter viva a herança espiritual e cultural que nos foi transmitida pelos
nossos ancestrais.
Os bons filhos de Orixá são aqueles que se dedicam com devoção e respeito às tarefas
cotidianas que sustentam o funcionamento harmonioso do Ilê. Desde aquele que varre o
quintal ao raiar do dia, preparando o espaço para as atividades sagradas, até aquele que
limpa o salão, garantindo um ambiente puro e acolhedor para as cerimônias e celebrações.
São esses filhos que, muitas vezes de maneira silenciosa e discreta, desempenham funções cruciais: tiram as teias de aranha, mantêm os móveis livres de poeira, e cuidam com carinho dos animais sagrados. São eles que garantem que cada canto do Ilê esteja em ordem, refletindo a harmonia e a limpeza que são pilares da espiritualidade.
Os filhos que cozinham são igualmente valiosos. Eles preparam com amor e respeito os alimentos que serão oferecidos aos Orixás e compartilhados com a comunidade. Cada
prato, cada receita, é uma oferenda que carrega consigo a energia da devoção e da tradição. A comida no Candomblé não é apenas alimento, mas um elo direto com o sagrado.
Além do trabalho físico e das tarefas diárias, há aqueles que contribuem financeiramente para a manutenção da casa. Esses filhos de Orixá compreendem a importância de sustentar o Ilê, assegurando que as necessidades materiais sejam atendidas, para que a comunidade possa prosperar e continuar a servir de refúgio espiritual para todos, quando doamos temos a certeza de receber de volta.
O reconhecimento desses filhos é algo que deve ser enaltecido. Cada um, independentemente da tarefa que desempenha, é uma peça fundamental no vasto mosaico que compõe o Ilê. Eles não são apenas trabalhadores ou contribuidores; são guardiões da tradição, defensores do sagrado, e pilares da comunidade.
Para o sacerdote, o valor desses filhos é imensurável. São eles que, com suas ações e comprometimento, tornam possível a prática contínua e vigorosa da fé. Eles ajudam a
perpetuar os rituais, a cuidar dos espaços sagrados, e a assegurar que a conexão com os
Orixás permaneça forte e vibrante.
Em um mundo onde tantas tradições estão em risco de se perder, os bons filhos de Orixá são um bastião de esperança e resistência. Eles mantêm viva a chama da espiritualidade africana, garantindo que as futuras gerações possam herdar essa rica herança cultural e espirítual.
Apesar dos maus exemplos de filhos que nunca têm tempo para o axé e que só podem estar presentes quando estao recolhidos ou precisam,não devemos desanimar. Esses indivíduos, que deixam de lado suas responsabilidades e compromisso com o sagrado, são uma minoria que não deve abalar nossa fé e dedicação. Não podemos perder a fé, nem todo Pau que nasce torto até a cinza é torta porém quando o ori é buruku nao existe ebó que mude,uma cabeça ruim será sempre uma cabeca ruim porem as atitudes podem sim mudar com o tempo e o aprendizado.
Devemos valorizar, celebrar e reconhecer os bons filhos de Orixá. Eles são a espinha dorsal
de nossas casas de santo, a força vital que sustenta nossas práticas e a alma que mantém
acesa a chama do sagrado. Sem eles, o Ilê não seria um lugar de luz e devoção. Com eles, somos uma comunidade forte, unida e resiliente, capaz de enfrentar qualquer desafio e celebrar a beleza de nossas tradições.
Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá
Eu sou Paulo Aurélio Carvalho Lopes, nasci em 12 de agosto de 1968, em Simões, Piauí. Sou o primogênito de uma família de seis irmãos, criado por minha mãe solo, Maria do Socorro Carvalho e o apoio de meus avós Dona Maria e Seu José... [+ informações do Dr. Aurélio de Odé, Babalorixá]
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