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Colunista
WALLACE D´ OSOOSI | Babalorixá
Eu só fui me sentir Babalorixá quando enterrei meu primeiro filho de Santo, enquanto eu tirava Yawo eu não me sentia completo. Na hora do Yawo, é tanta gente perto, na hora da Morte é você, o corpo e alguns. Ali não tem plateia, cerveja, carão, pano na cintura, holofotes.
Foi nesse exato momento em que me senti confortável em me ver como Babalorixá. A primeira vez, meu Zelador esteve comigo e me disse, “daqui pra frente é com você”. Nós Babalorixás e Yalorixas temos uma missão pós-morte, é na obrigação dentro do Cemitério que entendemos o sentido das coisas, entendemos que a vaidade não é tão importante e sim a sabedoria, que a canjica, acaça, pipoca e Mariwo tem o poder do início, meio e pós-vida.
Temos a certeza de que Oya é uma mãe, uma amiga para todas as horas, para todos os momentos, que o silêncio dos Orixás nesse momento é o conforto que precisamos, que os cânticos sagrados são para confortar nossos corações. A primeira cabeça que raspei foi uma pessoa de Osoosi, e a primeira pessoa que enterrei também foi uma pessoa de Osoosi. Osoosi é meu grande professor.
Ser Babalorixá é muito das vezes não ter tempo para chorar ou viver o luto, pois tem gente para jogar, obrigação para dar, sem tempo para desmoronar, mesmo desmoronado por dentro. Nessa hora ninguém briga por cabeças, ninguém faz questão, ninguém disputa para mastigar obi.
Ser Babalorixá é colocar os problemas no bolso e tentar resolver os problemas dos outros.
Não me senti Babalorixá quando atingi a maior idade dentro do SANTO
Não me senti Babalorixá quando raspei alguém
Me senti Babalorixá quando enterrei alguém, ali eu pude decidir se era isso que eu queria para minha vida ou não. A obrigação fúnebre não pode faltar.A vida Continua!
Faça o seu melhor mesmo que ao seu redor não tenha platéia.